Título: É preciso atirar para todo lado e agarrar o que pintar
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2010, Economia, p. B1

Desempregado há sete anos, o paulistano Wilson Roberto dos Santos não perde o bom humor nem a esperança de conseguir emprego, apesar da posição de desigualdade em relação aos concorrentes. Com 57 anos, ensino médio incompleto, luta para sobreviver fazendo um pouco de tudo. Já vendeu churrasquinho, fez bico como marceneiro e hoje é baterista freelancer de um conjunto de bailes de "pés inchados", como ele chama a turma da terceira idade.

Há dois meses, Santos concluiu curso de torneiro mecânico do programa de qualificação profissional do governo paulista. Agora, quer fazer o de cabeleireiro. "É preciso atirar para todos os lados e agarrar o que pintar. Se tiver de engraxar sapato, eu vou. Só teria vergonha de pedir dinheiro, até porque não ficaria nada bem um negão sarado como eu pedir esmola por aí."

Santos trabalhava como auxiliar na pequena oficina de marcenaria que o pai mantinha em casa. Também era baterista de uma banda de bailes. A situação começou a se complicar após ser demitido da banda. Em seguida, o pai morreu e ele teve de vender as máquinas da marcenaria.

Não fosse o salário de uma das três filhas, funcionária de uma empresa que presta serviços para um banco, Santos teria dificuldade para manter a família. "Não dá para trazer muito dinheiro para casa tocando como freelancer. É incerto, coisa de R$ 70 por baile numa sexta-feira ou num sábado e só vai entrar de novo após uma ou duas semanas."

A situação de Sueli Assalve, de 45 anos, não é muito diferente. Ela é solteira, mora sozinha e está desempregada há dois anos. Para sobreviver, vende cosméticos. "Mas esse negócio de vender não é todo mês, porque quem compra num mês, no outro já não quer", queixa-se.

Quando o dinheiro fica muito curto, recorre a uma das quatro irmãs, que são casadas e têm situação financeira mais estável. Além disso, todo mês pega uma cesta básica na igreja. "Queria um serviço fixo, registrado. Mas é cada vez mais difícil. Eles querem gente nova e com mais estudo", diz Sueli, que tem curso fundamental. Nos últimos dois meses, após ter feito curso de auxiliar de cozinha, ela se candidatou a 19 ofertas de emprego.