Título: ONU vê queda de 25% no investimento externo
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2010, Economia, p. B8

Levantamento indica recuo entre o primeiro e o segundo trimestres e aponta que praticamente não haverá recuperação este ano, em relação ao ano passo Um levantamento publicado ontem pela Conferência da Organização das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) indicou que, no segundo trimestre de 2010, a queda dos investimentos externos no mundo foi de 25%. A nova estimativa ainda aponta que praticamente não haverá recuperação dos investimentos em 2010, em comparação com 2009.

A redução é um reflexo das incertezas sobre a retomada da economia e o corte de gastos dos Estados diante de déficits sem precedentes para algumas das economias ricas. Os investimentos haviam sofrido redução drástica entre 2008 e 2009 diante da seca de empréstimos, recessão e demissão de 30 milhões de trabalhadores pelo mundo.

No fim do ano passado, os primeiros sinais de recuperação foram registrados, principalmente graças aos interesses pelo setor extrativista nos países emergentes, entre eles o Brasil.

Mas, agora, o fluxo mundial volta a cair. Entre o primeiro e o segundo trimestres de 2010, a queda foi de 25%, num total de US$ 94 bilhões. O volume ainda é 15% inferior ao do mesmo período de 2009, quando o mundo ainda vivia o auge da crise. Segundo especialistas, mesmo os quatro trimestres de crescimento indicaram apenas recuperação marginal. No segundo trimestre, os fluxos para Estados Unidos e Reino Unido foram especialmente afetados, com retração de até US$ 20 bilhões. Mais uma vez, os emergentes foram poupados. A queda, de forma geral, foi menor que entre os ricos.

Telefônica. No Brasil, o volume recebido passou de US$ 5,5 bilhões no primeiro trimestre para US$ 6,4 bilhões no segundo trimestre. Segundo o levantamento da ONU, o Brasil também foi alvo do terceiro maior negócio até agora em 2010 envolvendo a aquisição de uma empresa nacional por capital estrangeiro.

A compra da Vivo pela Telefônica movimentou US$ 9,7 bilhões, valor superior à compra de empresas de mineração, investimentos na indústria farmacêutica alemã ou mesmo no setor de energia e seguros no Reino Unido.

No terceiro trimestre, o negócio no setor de telefonia no Brasil foi o maior no mundo. Em todo o ano, apenas perdeu para a compra da Cadbury pela Kraft Foods, no valor de US$ 18,7 bilhões. Outro investimento no setor de telefonia ainda foi o segundo maior negócio do planeta em 2010. A indiana Bharti gastou US$ 10,7 bilhões para comprar a Zain e praticamente controlar o setor de celulares na África.

Outro investimento no Brasil também figura entre os maiores do mundo em 2010. Trata-se da compra da Bunge pela Vale, por US$ 3, bilhões, no segundo trimestre. No restante dos Brics, o fluxo também não caiu, como no resto do mundo. Na China, o volume chegou a US$ 27,9 bilhões, 20% superior ao começo no ano. Com o resultado, a China praticamente empatou com os Estados Unidos como maior destino de investimentos no mundo. Na Rússia, a alta foi de 30%, num total de US$ 10,8 bilhões e o quinto maior valor do mundo.

Mas, para a ONU, a ameaça de uma guerra de moedas, com países baixando cotações para se manter competitivos, deve ajudar a frear as ambições de empresas de voltar a investir. Na avaliação do economista James Zhan, diretor da divisão de investimentos da Unctad, a guerra de moedas adiciona um elemento de incerteza que não é o que o setor industrial gostaria de ver agora.

"Temos visto uma flutuação grande das principais moedas. Há um risco real de uma guerra de moedas", disse Zhan. Seus comentários seguem a mesma linha dos alertas já feitos pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional.

Se a desvalorização de moedas nacionais pode ajudar nas exportações, elas podem ser negativas para a entrada de investimentos. Se de um lado a empresa estrangeira ganha com ativos mais baratos ou uma exportação mais competitiva, a desvalorização de suas moedas pode reduzir os lucros que uma multinacional repatriaria a seus países de origem.