Título: Educação financeira chega à periferia
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2010, Economia, p. B10

Na população de baixa renda, principais dúvidas são sobre endividamento, poupança, orçamento familiar e serviços bancários

Comentários Como começar a poupar, organizar o orçamento, controlar as dívidas, conhecer os serviços bancários e aprender a negociar? Essas são as cinco perguntas mais frequentes na população de baixa renda quando questionada sobre o que quer aprender a respeito de dinheiro e finanças.

A constatação é do programa global de educação financeira, direcionado à população com menor poder aquisitivo, a partir de uma pesquisa feita em 42 países, entre eles o Brasil. "Sabemos disso tudo há alguns anos, mas o tema só entrou no Brasil recentemente, com a ampliação da oferta de crédito que vivemos", diz a educadora financeira Cássia D"Aquino.

De pouco tempo para cá, sobretudo a partir deste ano, começaram a surgir iniciativas de grupos privados, estatais e de instituições sem fins lucrativos para inserir o tema educação financeira em bairros periféricos de São Paulo.

Serasa, Citibank, Mastercard e a organização não governamental (ONG) Arrastão são as instituições que estão apostando com mais afinco no tema em São Paulo.

Cássia considera a iniciativa louvável, mas sugere que tal preocupação tem mais a ver com o receio de haver uma explosão nos índices de inadimplência, uma vez que, reforça a especialista, o crédito está farto e cada vez mais fácil para os brasileiros.

Os frequentadores desses cursos, no entanto, podem explorar os mais diversos assuntos e não só o "como não se endividar". "Nos surpreendemos com algumas dúvidas trazidas pelo pessoal da comunidade. Os assuntos são bem diversificados", conta Ricardo Pereira, consultor do Consumidor Consciente, projeto da Mastercard focado na zona sul da capital paulista.

Relato semelhante é feito por Fernanda Aidar, da ONG Arrastão que, em parceria com o Citi, iniciou neste ano aulas de educação financeira dentro de Paraisópolis.

Ela conta que foram definidos três temas básicos para serem abordados nas aulas: orçamento, dívidas e poupança. No fim da primeira aula, no entanto, os professores foram surpreendidos com a intervenção de uma senhora. Ela dizia que a aula "havia tratado apenas o bê-a-bá" e seria interessante "falar sobre investimentos".

Negócio próprio. Especialistas em finanças pessoais, porém, alertam que investimento é para aqueles que já têm as finanças bem consolidadas. Ou seja, sem dívidas, com renda mensal garantida.

Outro tema recorrente nas aulas ministradas nas regiões de menor poder aquisitivo é abertura de negócios. "Eles têm ambições de ter o próprio negócio, por exemplo", lembra Pereira.

Andrea Denadai, diretora da Mastercard, conta ainda que as aulas sobre os melhores meios de pagamento (cartão, cheque ou a vista) também têm grande volume de alunos interessados.

Gilson Rodrigues, representante da comunidade de Paraisópolis, endossa a afirmação de Andrea. "Os moradores adoraram a aula sobre meios de pagamento." A principal lição aprendida, diz Rodrigues, foi que o pagamento à vista é sempre muito mais vantajoso. "Por causa da taxa de juros do Brasil, que é muito alta", explica, orgulhoso com o aprendizado.