Título: Mãe de garota aponta enfermeira como responsável
Autor: Haddad, Camilla ; Oda, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2010, Vida, p. A21

Profissional foi intimada a depor no caso de menina que morreu após receber vaselina; MP investiga hospital há três meses

A dona de casa Roseana Mércia dos Santos Teixeira, mãe de Stephanie, que morreu no sábado depois de receber vaselina no lugar de soro, apontou ontem uma enfermeira de 26 anos do Hospital São Luiz Gonzaga como sendo responsável pela troca. Os frascos da vaselina e do soro teriam sido confundidos, pois a embalagem é idêntica. A Polícia Civil intimou a enfermeira a prestar depoimento.

Investigadores do 73.° DP (Jaçanã) entregaram a intimação a um familiar na casa da enfermeira. Segundo o delegado José Bernardo de Carvalho Pinto, ela não é obrigada a se apresentar à polícia para ser interrogada. Caso não responda a três chamados, Pinto pedirá para um juiz determinar o dia do depoimento.

Roseane assinou um termo de reconhecimento no qual aponta mais duas pessoas, que seriam auxiliares de enfermagem. O delegado intimou 25 funcionários do hospital que trabalhavam no andar onde Stephane morreu - 16 deles são enfermeiros ou auxiliares de enfermagens. Ninguém prestou depoimento ontem, segundo a polícia.

Alvo. O Hospital São Luiz Gonzaga está sob investigação do Ministério Público há cerca de três meses. O inquérito civil, instaurado pela área de Saúde Pública da Promotoria de Direitos Humanos da capital, apura denúncias de mau atendimento e falta de funcionários.

Após ouvir reclamações de lideranças comunitárias do Jaçanã e de pacientes do hospital, o promotor Arthur Pinto Filho pediu vistorias do Conselho Regional de Enfermagem (Coren) e do Conselho Regional de Medicina (CRM) no São Luiz Gonzaga. Parte das denúncias relatava a falta de enfermeiros e de médicos na unidade de saúde, gerida pela Santa Casa de Misericórdia.

O processo ainda está em andamento, segundo o promotor. "Sabemos que é um hospital muito adensado. Pelas informações que temos, ele tem 101% de ocupação dos leitos, quando o recomendado pelo Ministério da Saúde é de 80% a 85%", diz Pinto Filho, que critica o sistema de contratação de funcionários nos hospitais públicos administrados por organizações sociais.

A família do frentista Heraldo Rodrigues, de 38 anos, convive com as marcas de queimaduras deixadas nas costas de sua filha, hoje com 5 anos. A menina nasceu prematura e, na incubadora, recebeu fortes ondas de calor do equipamento, segundo a família. "Ela tem a cicatriz até hoje."

A Santa Casa de São Paulo informou que não poderia comentar o inquérito e esses dois casos até o fechamento desta edição.