Título: Geithner quer apoio do Brasil contra China
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2011, Economia, p. B1

Secretário do Tesouro americano diz para Mantega, em Brasília, que o yuan desvalorizado é pior para o Brasil do que para os EUA

Os Estados Unidos querem o apoio do Brasil contra a China na próxima reunião do G-20. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, tentou convencer ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o "yuan desvalorizado é um problema maior para o Brasil do que para os Estados Unidos".

O argumento de Geithner é que o yuan artificialmente atrelado ao dólar exarceba os fluxos de capital que já chegam com abundância ao Brasil por causa dos juros altos e do bom desempenho da economia do País. Esse movimento provoca uma forte valorização do real, que prejudica a indústria brasileira. Uma mudança na política cambial chinesa aliviaria esse problema.

Uma fonte presente à reunião entre as duas autoridades contou ao Estado que Mantega disse apenas que "o Brasil é contra manipulação de moedas de forma geral", mas não se comprometeu em apoiar os EUA. Nos próximos dias 18 e 19 , ocorre encontro de ministros da Fazenda do G-20 em Paris.

O governo brasileiro está bastante preocupado com a "invasão de produtos chineses" e já se comprometeu com a indústria a tomar medidas de defesa comercial. Mantega cogita questionar a China na Organização Mundial de Comércio (OMC), argumentando que a manipulação cambial distorce o comércio.

O problema do Brasil em apoiar os Estados Unidos, no entanto, é que Mantega também considera os americanos responsáveis pela "guerra cambial". Para reaquecer sua economia, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) emitiu uma grande quantidade de recursos, que acabaram canalizados para os mercados emergentes.

Geithner tentou tranquilizar o ministro e argumentou que dificilmente os EUA vão precisar de uma nova flexibilização da política monetária dessa magnitude. Os EUA estão crescendo a 18 meses seguidos, em um ritmo melhor que Europa e Japão.

Obama. Oficialmente, Geithner veio ao País preparar a visita do presidente Barack Obama em março. Além de Mantega, ele se reuniu ontem com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e foi recebido pela presidente Dilma Rousseff. Pela manhã, tomou café com empresários em São Paulo e conversou com estudantes na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Aos estudantes, Geithner responsabilizou três fatores pela valorização excessiva do real: a confiança dos investidores no bom desempenho da economia local, as taxas de juros muito altas do Brasil e as políticas de países emergentes de fora da região, que mantêm suas moedas artificialmente enfraquecidas.

"Um número significativo de economias emergentes pratica uma política designada para manter sua moeda desvalorizada, o que exacerba fatores básicos no Brasil", disse Geithner. Ele afirmou ainda que a taxa de juros do País ainda é "muito, muito alta", o que atrai capitais.