Título: Queremos apenas que as potências bombardeiem os mercenários
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2011, internacional, p. A10

Khaled al-Sayah, porta-voz do Conselho Militar rebelde

As Forças Armadas rebeldes ainda estão se reorganizando e recuperando seu armamento, depois da "revolução" iniciada dia 15. Por isso, o Exército demorou a reagir, quarta-feira ao avanço das forças leais ao ditador Muamar Kadafi, em Brega, 230 km a oeste de Benghazi, a principal cidade controlada pelos rebeldes. Foi o que afirmou ontem, Khaled al-Sayah, porta-voz do Conselho Militar que reúne 15 comandantes que pertenciam ao Exército de Kadafi e se juntaram aos rebeldes. Em entrevista ao Estado, Al-Sayah, disse que os militares desejam que as potências ocidentais bombardeiem os mercenários que apoiam Kadafi, e não as instalações do ditador em Trípoli. Também não querem tropas terrestres estrangeiras. O advogado, única face pública do Conselho Militar, cujos membros são mantidos em segredo, afirma que os rebeldes estão em contato com os militares em Trípoli e têm um plano para tomar a capital. Só não sabem quando.

Por que o Exército demorou tanto para enviar armamentos quarta-feira a Brega?

A revolução deixou as Forças Armadas exauridas e desarticuladas. Os revolucionários invadiram os quartéis e tomaram veículos e armas. Os militares tiveram de reassumir e recuperar o que tinham. Nos últimos dias, quisemos nos reorganizar primeiro, antes de entrar em ação, porque não podemos expor as Forças Armadas (em rebeldia) a uma situação de fragilidade.

Qual o plano do Exército para conter as centenas de mercenários chadianos que, segundo informações da liderança civil rebelde, estão entrando na Líbia?

Nossas linhas de defesa ao redor de Benghazi atingem um raio de 300 km. Ontem (quarta-feira), recuperamos Brega e avançamos 100 km até depois da região de Al-Gayla (300 km a oeste de Benghazi).

Com tanques e armamento?

Sim. Tudo o que eles precisam eles têm lá.

Há alguma divisão nas Forças Armadas rebeldes?

De maneira nenhuma. Nunca houve nem há. Todos os membros do conselho estão em estreita cooperação. Mesmo os civis, incluindo empresas, estão nos apoiando com dinheiro, comida, maquinário. A situação agora é muito estável.

O que os militares esperam das outras potências ocidentais?

Só queremos que eles bombardeiem alvos dos mercenários estrangeiros, porque muitos entraram nos últimos dias pelo sul da Líbia. Não queremos tropas terrestres. Também não queremos que bombardeiem o quartel-general de Kadafi em Trípoli, porque isso o transformaria em herói.

A linha de divisão dos territórios controlados por vocês e por Kadafi é Ras Lanuf (380 km a oeste de Benghazi)?

No momento, sim.

Estão preparando forças para tomar Trípoli?

Sim, num futuro próximo.

Em quanto tempo?

Depende de quanto tempo o Exército (rebelde) precisa se preparar e quantos mercenários vamos enfrentar.

Os militares de Benghazi estão em contato com os de Trípoli?

Há boas pessoas entre os militares em Trípoli que querem se juntar à revolução. Mas não há uma ação concertada. Temos planos em conjunto com os militares em Trípoli, mas ainda não pudemos executá-los.

O sr. não tem medo?

Não. Kadafi citou meu nome no discurso de quarta-feira. Ele sabe muito bem quem eu sou. Eu não tenho nada a perder. Quem tem é Kadafi.