Título: Crise no Japão ameaça produção de carros e chips
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2011, Economia, p. B1

Catástrofe comprometeu capacidade da indústria de continuar a produzir, mas o impacto econômico ainda não está definido

Os danos provocados pelo terremoto no Japão interromperam a produção de automóveis, chips de computador e vários outros bens, e poderão obrigar ao fechamento prolongado de fábricas, criando um ponto de estrangulamento na economia global.

Na segunda-feira, as bolsas japonesas caíram 6,2%, quando os investidores começaram a calcular as dimensões da catástrofe. Ontem, a queda foi de 10,6%. Foi inútil a maciça injeção de ienes pelo Banco do Japão, na tentativa de dar sustentação ao sistema financeiro do país.

Nos Estados Unidos e na União Europeia, os mercados caíram ligeiramente. "O quadro completo da devastação causada pelo terremoto e pelo tsunami que engoliu o nordeste do Japão na sexta-feira só começou a ficar mais claro no fim de semana, mas o impacto econômico continua extremamente indefinido", disse em um relatório John Higgins, analista da Capital Economics.

A parte do Japão que sofreu o impacto mais direto do terremoto representa uma fatia relativamente pequena da produção industrial da terceira maior economia mundial. Entretanto, os danos à infraestrutura - estradas, ferrovias, eletricidade - foram maiores.

A catástrofe comprometeu a capacidade das indústrias japonesas de obter suprimentos e energia para continuar produzindo e para que seus empregados cheguem ao trabalho. É muito cedo ainda para saber até que ponto a cadeia da oferta mundial dos principais bens será afetada.

Muitas fábricas de automóveis em todo o Japão fecharam as portas, pelo menos temporariamente, escreveu o analista do setor Paul Newton, da IHS Global Insight, segundo o qual a situação é "fluida". A Toyota fechou todas as suas fábricas no país até hoje, interrompendo 45% de sua produção global. Nissan, Honda, Suzuki, Mazda e Mitsubishi informaram prejuízos e fechamentos temporários de suas fábricas japonesas.

Entre as maiores corporações estão algumas das principais marcas globais que transferiram a produção ao exterior. A Honda, por exemplo, já calculou que suas operações no mercado crucial da América do Norte não serão profundamente afetadas.

Também poderão ser interrompidos o fornecimento e o embarque de eletrônicos, particularmente de materiais usados na fabricação de painéis de cristal líquido, segundo o analista Dale Ford da IHS iSuppli, que pesquisa as cadeias de fornecimentos.

Analistas de todo o mundo acompanharão atentamente como essa nova onda de incertezas econômicas será recebida pelos mercados, avaliando a possibilidade de recuperação da economia americana com o aumento dos preços do petróleo e de outros riscos em potencial.

O Japão tem capacidade de crédito para reagir à tragédia, disse Mohamed El-Erian, CEO de investimentos da Pimco. Provavelmente os recursos virão também dos investimentos no exterior, fenômeno que pode ter influenciado a valorização do iene na sexta-feira, após o desastre.

O país perdeu cerca de 6.800 megawatts de geração de energia depois do dano às usinas nucleares, talvez 7% ou mais de seu fornecimento total, afirmaram analistas da Barclays Capital.

Pelo menos a curto prazo, "as consequências da tragédia do Japão se estenderão a outros países sob a forma da redução da demanda global e da interrupção da cadeia de suprimentos", afirmou El-Erian. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA