Título: Crise nuclear no Japão leva pânico às bolsas, mas ação do Fed limita perdas
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2011, Economia, p. B1

Investidores tiram US$ 247 bi das bolsas apenas na Europa, mas decisão do BC americano de manter os juros alivia o mercado no fim do dia

Apesar de sinais favoráveis na economia americana, ações despencaram no mundo ontem diante da possibilidade de uma catástrofe nuclear no Japão. Os investidores, buscando a segurança dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, têm evitado arriscar nas últimas semanas depois que os levantes árabes afetaram a produção de petróleo na Líbia. Agora, a crise japonesa acentuou a aversão ao risco.

No fim de um dos dias de maior pânico no mercado em 2011, quando os mercados europeus e asiáticos já haviam fechado, a visão positiva do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) sobre a economia americana ajudou a acalmar os investidores, mas não o suficiente para evitar uma queda nas ações.

De acordo com a nota do Fed, que manteve a taxa de juros perto de zero, "a recuperação econômica está em passo mais firme e as condições gerais do mercado de trabalho parecem melhorar gradualmente". Alertando para os efeitos da alta nos preços dos combustíveis e dos commodities, o Fed afirmou que observará com atenção a inflação, apesar de achar que os preços devam se manter estáveis no longo prazo.

Os principais índices de ações em Nova York chegaram a registrar perdas de 1,5% ao longo do dia, até se recuperarem um pouco no fim do pregão. O Dow Jones fechou com queda de 1,1%.

As bolsas de valores da Europa fecharam no menor nível em três meses e meio. Londres caiu 1,4%. Paris perdeu 2,5%. Cerca de US$ 247 bilhões foram retirados do mercado, com investidores migrando para ativos considerados mais seguros.

Como era esperado, o Japão foi o mais afetado pelo pânico nas bolsas. Em Tóquio, o índice Nikkei caiu 10,6%, na maior redução desde a crise financeira em outubro de 2008. Durante o dia, as ações chegaram a despencar 14% quando premiê Naoto Kan disse que o risco de contaminação nuclear havia crescido. Os últimos dois dias somados registraram as maiores quedas no mercado acionário japonês em quase 25 anos.

Incerteza. Por ora, não está claro até que ponto a economia japonesa será afetada. Cerca de 10% das exportações americanas vão para o Japão. Empresas japonesas, como Toyota e Sony, também são fortes nos EUA. Ações de companhias de tecnologia americanas, como Intel, por serem dependentes de componentes fabricados no Japão, tiveram fortes quedas ante a possibilidade de uma tragédia nuclear.

A incerteza sobre o Japão é similar às dúvidas sobre o mundo árabe. Não está claro se outros países, além da Líbia, poderão ter a produção de petróleo afetada. Um aumento de 10% no preço do petróleo representa redução de 0,25% no crescimento global. Mas a crise no Japão tem reduzido a pressão sobre o preço do barril, apesar de as tropas sauditas terem entrado em Bahrein na segunda-feira para conter levantes contra o regime. O preço do barril recuou com a expectativa de menor demanda do Japão, terceira economia do mundo.

O pânico no mercado ocorre no momento em que o cenário parece melhorar na economia dos EUA. No comunicado oficial, o Fed disse que "os gastos das pessoas e das empresas continuam se expandindo". O Fed pretende continuar injetando US$ 600 bilhões na economia até o meio do ano. Essa política tem repercutido na taxa de desemprego, que diminuiu 1 ponto percentual nos últimos três meses e está em 8.9% - ainda o dobro da média histórica dos EUA.