Título: Dengue avança em 16 Estados; Norte é mais afetado
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2011, Vida, p. A26

Apesar de número total de casos ter caído 37% em relação ao mesmo período de 2010, Amazonas e Acre enfrentam epidemia

Números divulgados ontem pelo Ministério da Saúde revelam que a dengue avança em 16 Estados do País. Nos primeiros dois meses deste ano, o Brasil registrou 155.613 casos da doença.

Embora 37% inferior ao apresentado no mesmo período do ano passado, o indicador está longe de refletir uma situação de tranquilidade. Amazonas e Acre enfrentam epidemia. Minas, Rio e Paraná apresentam altos índices de infecção.

"Além disso, a temporada das chuvas ainda está em curso. Não podemos baixar a guarda", afirmou o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.

O período de maior risco de transmissão da doença no País ocorre nesta época do ano, quando o mosquito Aedes aegypti encontra as condições favoráveis para a sua reprodução: tempo úmido e quente.

"Estamos no meio do caminho. Se a tendência apresentada até agora se mantiver, certamente teremos neste ano um número menor de casos da doença que em 2010. Mas, para isso, é preciso manter a prevenção", advertiu Barbosa.

O crescimento do número de registros foi notado nas Regiões Norte, Nordeste e Sul. No Centro-Oeste foi detectada uma redução de 81% no número de casos e no Sudeste, de 55%. "São regiões que apresentaram no passado grande número de casos. Daí a redução nos indicadores nacionais", lembra.

A Região Norte concentra 31,6% do total de casos suspeitos, com 49.101 notificações. Em seguida, vêm Sudeste (com 27% dos registros), Nordeste (com 18,4%), Centro-Oeste (12,3%) e Sul (10,7%).

Até agora, foram notificados 241 óbitos suspeitos e 2.365 casos graves. A maior parte das suspeitas de casos graves de dengue foi registrada no Sudeste, com 1.126 notificações, o equivalente a 47,6% do total.

Para o secretário, a taxa de óbitos está acima da que seria considerada ideal. A meta é no máximo 1% de mortes entre casos graves da doença. "Não é preciso uma estrutura complexa de atendimento para evitar as mortes. O que pesa é atendimento rápido e boa organização na rede", disse.

Sintomas graves. Estudos feitos em epidemias anteriores mostram que 80% dos casos graves apresentaram como sintomas vômito e dores abdominais. "Algo que pode ser notado em qualquer serviço. Daí a recomendação para que secretarias orientem profissionais, façam um trabalho de organização do sistema de atendimento", diz Barbosa.

Uma das preocupações sobre os rumos da doença se refere ao tipo de vírus da dengue circulante no País. Há quatro tipos: 1,2,3 e 4. Quando uma pessoa apresenta infecção por um desses agentes, ela fica protegida para uma nova contaminação pelo mesmo subtipo.

Levantamentos mostram que a maior parte dos casos em 2011 foi provocada pelo vírus tipo 1, que desde a década de 1980 não circulava no País. Justamente por isso, há um número significativo da população ainda vulnerável, sobretudo crianças e adolescentes.

Dados do ministério mostram que, das 1.856 mostras de sangue com sintomas da doença analisadas, 81,8% foram positivas para a dengue tipo 1. Em seguida, veio a dengue tipo 2, com 11% dos resultados positivos.

A dengue 4, que ressurgiu no País em 2010, é responsável por 5,4% das análises positivas. Mas todos os casos se concentraram em Roraima, Amazonas e Pará. O vírus da dengue 3 foi o menos encontrado: 1,8% das amostras.

"Os dados até agora coletados mostram que a dengue tipo 4 apresenta no Brasil padrão semelhante ao da América Central: tem características menos agressivas. Em termos epidemiológicos, exerce sempre um papel coadjuvante."