Título: S&P volta a rebaixar notas de Portugal e Grécia
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2011, Economia, p. B13

Para agência de classificação de risco, Lisboa terá de recorrer à UE, enquanto Atenas pode não conseguir fugir do reescalonamento da dívida

Os títulos da dívida pública de Portugal e da Grécia, dois países da União Europeia em risco de insolvência, voltaram a ser rebaixados ontem pela agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P).

A decisão foi tomada depois que a União Europeia reiterou, na sexta-feira, que países que apelarem para o auxílio do futuro Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM), a partir de 2013, poderão ser obrigados a recorrer à reestruturação de suas dívidas.

O rebaixamento dos bônus dos dois países foi anunciado em comunicado da S&P. O rating de Portugal foi rebaixado em um grau, caindo para BBB-, enquanto o da Grécia sofreu ajuste mais abrupto, de dois níveis, para BB-.

Sobre a dívida portuguesa, a S&P disse julgar "muito provável" que o país tenha de recorrer ao auxílio conjunto do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Fesf) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), avaliado em ? 75 bilhões pelo coordenador do Fórum de Ministros de Economia da UE (Ecofin), Jean-Claude Juncker.

A S&P manifesta ainda preocupação com a crise política no país. Na semana passada, José Sócrates renunciou ao cargo de primeiro-ministro após perder votação que ampliava as medidas do chamado Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC).

Amanhã, uma reunião coordenada pelo presidente Aníbal Cavaco Silva pode decidir pela convocação de eleições antecipadas. "Esperamos que o próximo governo concorde com mais reformas fiscais e estruturais como parte de um programa da UE e do FMI", diz a nota da agência.

Ontem, Sócrates descartou os rumores de que seu governo possa apelar para o socorro europeu ainda nesta semana. "Estamos muito determinados para que não aconteça." Também ontem, o banco central de Portugal revisou para pior suas previsões de crescimento -1,4% para 2011 e 0,3% para 2012 - e pediu novas medidas de austeridade.

Grécia. A perspectiva negativa também foi a tônica da avaliação da S&P para a Grécia. Segundo a nota da agência, o rating do país se degradou em razão "das necessidades de crédito significativas e persistentes da Grécia".

Mesmo com a adoção de medidas de austeridade, o déficit do país pode ter excedido os 9,6% do PIB em 2010 e deve ficar em torno de 7,5% em 2011. A S&P prevê que Atenas vai recorrer a novo programa de financiamento de sua dívida a partir de 2013.

A hipótese de que os dois países recorram a fundos europeus a partir de 2013 preocupa, segundo a S&P. Isso porque o estatuto do ESM prevê o reescalonamento da dívida como uma das exigências possíveis para a concessão de um empréstimo.

Apesar das preocupações, Jean-Luc Proutat, diretor de países da OCDE e do centro de análises do banco francês BNP Paribas, acredita que o ESM não é negativo nem para os governos da zona do euro nem para os investidores. Isso porque o novo fundo terá ? 700 bilhões, dos quais ? 500 bilhões para linhas de crédito e programas de socorro. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS