Título: BC muda pesquisa para obter mais transparência
Autor: Graner, Fabio ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2011, Economia, p. B1

Amostra será dividida em três grupos e número de instituições que mais acertam previsões passará de 5 para 10, com prazo analisado de 12 meses

Alvo de críticas dentro e fora do governo, a Pesquisa Focus do Banco Central, que coleta as previsões dos analistas econômicos do mercado financeiro, vai mudar e ganhar maior transparência, com dados mais detalhados sobre os participantes da amostra.

Os críticos da pesquisa apontam que ela funciona como mecanismo de pressão do mercado financeiro sobre a condução da política de juros. O Estado antecipou que o BC estudava aperfeiçoamentos na pesquisa.

A pesquisa é importante porque o BC utiliza as expectativas do mercado para calcular as suas projeções de inflação e subsidiar as decisões sobre o rumo da taxa de Selic.

O BC vai fazer uma lista com o ranking das dez instituições que mais acertam as previsões, no lugar do atual sistema de cinco. Para estarem no Top 10, os analistas terão de ter na projeções um bom desempenho de acerto nas previsões num prazo dilatado, de 12 meses. Esse aumento do prazo vai evitar maior volatilidade nas projeções, segundo o BC. Na pesquisa semanal Focus, a mudança será introduzida a partir do terceiro trimestre.

O BC também vai dividir a amostra em três grandes grupos, o que garantirá uma "fotografia" mais clara dos cenários traçados pelos diversos grupos econômicos e facilitará a identificação de onde saem movimentos significativos de alterações nas previsões. Para cada um dos grupos - bancos, gestoras de recursos e demais (como corretoras, consultores e setor produtivo) -, o BC vai apresentar os dados separados da pesquisa.

Diferenças. O BC identificou que a visão dos agentes econômicos sobre as expectativas de inflação é heterogênea, o que, em teoria, leva a cenários distintos, ligados aos incentivos que cada um tem - por exemplo, maior ou menor lucratividade com juros altos. Essa alteração já foi introduzida no relatório de inflação trimestral, divulgado ontem, e será colocada também nas atas das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Pela nova sistemática, bancos preveem para 2011 o IPCA em 5,68%, gestoras de recursos, em 6% e demais em 5,67%. Para 2012, a previsão é de 4,71% nos bancos, 5% para gestoras e 4,62% nos demais. Na pesquisa semanal Focus, a divisão em grupos só ocorrerá no terceiro trimestre.

O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, informou que o número de instituições da amostra - hoje de cem - não foi alterado. Segundo ele, a amostra não aumenta por questão de baixa oferta, já que não há muitas instituições capazes de produzir os dados. Na divisão, cada grupo da amostra terá cerca de 30 a 40 instituições.

O BC também estuda fazer um grupo diferenciado só para consultorias, mas não há decisão. Carlos Hamilton destacou que as expectativas do mercado são importantes "desde sempre" e afirmou que não houve nem haverá mudanças no peso que elas têm nas projeções de inflação feitas pelo Banco Central.

O QUE DIZ O RELATÓRIO

Projeções para a inflação

O relatório do Banco Central prevê a inflação em 5,6% este ano no cenário de referência e também no de mercado; no cenário alternativo, em 5,5%. Para 2012, a projeção para o IPCA nos cenários de referência e mercado é de 4,6% e no cenário alternativo, de 4,4%. Lembrando que o centro da meta é 4,5%.

Projeções para o PIB

O Banco Central reduziu de 4,5% para 4% a previsão de crescimento da economia neste ano.

Onde estão os riscos para a trajetória de inflação

Comportamento das commodities internacionais (entre elas, o petróleo)

Repasse de alta nos preços do atacado para o consumidor

Continuidade do descompasso entre oferta e demanda

Concessão de aumentos salariais acima da alta da produtividade

Mecanismos de indexação.

Mas o Banco Central mostra confiança porque

Os juros já subiram 1 ponto porcentual (a maior alta entre 27 países)

Foram adotadas medidas de aperto do crédito e redução da oferta de dinheiro (medidas macroprudenciais) O governo dá sinais de que desta vez vai cumprir a meta de superávit primário sem descontos

Por isso, apesar do elevado nível de incerteza, o Banco Central avalia que o balanço de riscos para a inflação se tornou mais favorável

Para o Banco Central, diante da presença de choques fortes (especialmente o dos alimentos) que ainda estão fazendo efeito, é recomendável uma trajetória mais suave de convergência de inflação para não derrubar demais a economia para controlar a inflação