Título: S&P volta a rebaixar títulos da dívida da Irlanda
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2011, Economia, p. B11

Os problemas do sistema financeiro da Irlanda levaram ontem a agência de risco Standard & Poor"s a rebaixar mais uma vez os títulos da dívida soberana do país. A decisão foi tomada um dia após a revelação de que quatro dos maiores bancos irlandeses ainda precisam de ? 24 bilhões para evitar a falência. À beira do buraco, o governo recebeu o apoio formal da União Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O rebaixamento foi anunciado ontem e levou em conta os testes de estresse, cujo resultado foi anunciado quinta-feira, em Dublin. A S&P agora classifica as obrigações soberanas da Irlanda como BBB+, porque estima que o país terá de recorrer, a partir de 2013, ao auxílio do futuro Mecanismo de Estabilidade Financeira (ESM, na sigla em inglês), a ser criado pela UE.

Desde dezembro, Dublin já conta com uma linha de crédito de ? 85 bilhões concedida pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Fesf) - que será extinto em 2012 - e do FMI.

Segundo a S&P, o ESM "prevê que a reestruturação da dúvida possa ser uma condição prévia" à obtenção de recursos, prejudicando os investidores privados.

Por outro lado, a agência classificou como "estável" a tendência dos próximos meses, baseada na avaliação de que os testes de estresse, a que foram submetidos os bancos Allied Irish Bank (AIB), Banco da Irlanda (BoI), Irish Life & Permanent e EBS, são confiáveis. Além disso, a S&P considera a perspectiva de crescimento da Irlanda melhor que as da Grécia e de Portugal, em razão do grau de flexibilidade, abertura e competitividade.

Também ontem, a Fitch anunciou que os títulos da dívida soberana da Irlanda estão "sob observação", com viés negativo. A agência já havia rebaixado os papéis irlandeses para BBB+ em dezembro e agora ameaça com nova desclassificação.

Em contrapartida, três instituições de peso - a UE, o BCE e o FMI - manifestaram satisfação com o teste de estresse. Segundo comunicado, o país está cumprindo os passos para a recuperação econômica. Além disso, segundo a UE, o buraco de ? 24 bilhões dos quatro bancos "pode ser facilmente financiado" pelo pacote de ? 85 bilhões recebido pelo país em dezembro.

Portugal. A agência de classificação de risco Fitch divulgou um comunicado que rebaixou o rating de Portugal em três graus, de A- para BBB-, com perspectiva negativa, afirmando que as possibilidades de o país receber "apoio externo oportuno" diminuíram no curto prazo depois de o presidente português, Aníbal Cavaco Silva, ter anunciado ontem que as eleições parlamentares ocorrerão em 5 de junho.

Ontem o governo português conseguiu refinanciar no mercado ? 1,6 bilhão em títulos de dívida soberana de curto prazo, com validade de 15 meses. O ágio pago, entretanto, foi elevado: 5,79% - 2,5% a mais do que o exigido por obrigações semelhantes negociadas em 2010. A taxa exigida de Portugal para 15 meses é equivalente à paga pela Espanha para dez anos, um indicador de que os investidores seguem apostando que o país terá de recorrer ao Fesf e ao FMI.

Em Lisboa, o ministro da Energia e da Indústria da França, Eric Besson, pediu que o governo aponte à UE quais medidas adotará para evitar a falência, já que ainda não pediu ajuda internacional. Na quinta-feira, o governo do primeiro-ministro José Sócrates anunciou que o déficit do país foi de 8,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, superior aos 7,3% previstos até então.