Título: G-20 age contra manipulação de preços agrícolas
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2011, Economia, p. B8

Grupo pode criar regras para impedir, por exemplo, um investidor de deter posições grandes para influenciar a formação das cotações das commodities

Ministros de Finanças do Grupo dos 20 (G-20) concordaram em criar mecanismos de regulação e supervisão para evitar a excessiva instabilidade de preços dos alimentos e outros produtos agrícolas. Não se trata de uma tentativa de fixar ou tabelar cotações, mas de prevenir "abusos de mercado e manipulação", segundo o comunicado emitido depois do encontro.

Poderão ser criadas, por exemplo, regras para impedir um investidor de deter posições bastante grandes para influenciar a formação das cotações, explicou a ministra da Economia da França, Christine Lagarde, presidente do grupo em nível ministerial.

O sistema deverá cobrir tanto o mercado de produtos quanto as transações com derivativos, porque mercadorias agrícolas e outras matérias-primas vêm sendo transacionadas também como se fossem ativos financeiros. Um estudo com propostas de regulação e supervisão deverá ser entregue ao G-20 até setembro pela Organização Internacional de Comissões de Valores (OICV), segundo informou Lagarde.

Pobreza. Segundo o Banco Mundial, 44 milhões de pessoas foram jogadas na pobreza pelo aumento recente do custo da alimentação. O índice de preço de alimentos calculado pelo banco subiu 47% entre julho do ano passado e fevereiro deste ano, voltando ao pico de 2008.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aceitou o esquema discutido na reunião de ontem na sede FMI. Até a véspera, o governo brasileiro se opunha à proposta, originalmente francesa, de regulação dos mercados de alimentos. A oposição brasileira, segundo Lagarde, resultava de um mal-entendido.

Os ministros também concordaram em criar indicadores para avaliar a política das economias com maior peso internacional e promover a correção de desequilíbrios. Com base nesse esquema será definido um plano de ação para assegurar "um crescimento econômico forte, sustentável e equilibrado", para discussão no próximo encontro de chefes de governo do G-20, em outubro, em Cannes.

Serão levados em conta na avaliação dois grupos de indicadores internos e externos e as políticas cambial, fiscal e monetária. Um rede com malha mais fina deverá capturar para exame os desajustes nas economias com peso superior a 20% PIB do G-20. Esse grupo terá sete países, selecionados com base no tamanho de sua economia, calculado com base no câmbio oficial e também pelo critério da paridade do poder de compra (este critério elimina certas diferenças de preços). O grupo deve incluir Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e - pelo critério PPP - a Índia. Pelo critério do câmbio oficial, o sétimo país seria o Brasil.