Título: Falcões voltam a defender uso de tortura
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2011, Internacional, p. A14

Veteranos da era Bush dizem que método de interrogatório levou CIA até Bin Laden

O sucesso da missão que matou Osama bin Laden reacendeu o debate nos EUA sobre a legitimidade da tortura - ou "métodos reforçados de interrogatório", no jargão de Washington - em interrogatórios de acusados de terrorismo. O governo de George W. Bush defendeu o procedimento, dizendo que era indispensável para obter informações de suspeitos presos em Guantánamo.

A tortura foi oficialmente banida pelo atual presidente americano, Barack Obama. "Os EUA não torturam", afirmou Obama, um dia após ser eleito, na cerimônia em que assinou a proibição do uso dos "métodos reforçados de interrogatório".

Uma das principais técnicas usadas em Guantánamo era a simulação de afogamento - ato de jogar grande quantidade de água sobre o rosto de uma pessoa deitada e imobilizada.

"Claro que valiosas informações foram obtidas nesses tipos de interrogatório", disse Leon Panetta, diretor da CIA em entrevista à CBS. "Acho que a questão que todo mundo sempre debate é se esse procedimento deve ou não ser usado para extrair informações. Francamente, é uma questão em aberto."

Ideólogo da tortura no governo Bush e professor de Direito da Universidade da Califórnia, John Yoo voltou a justificar a prática, dizendo que ela foi "fundamental" para rastrear Bin Laden. "Obama pode levar o crédito, corretamente, pelo sucesso da operação. Mas isso foi graças às duras decisões tomadas pelo governo Bush", escreveu Yoo à revista National Review. "Os democratas criticaram Bush por ter excedido seus poderes e violado a Carta de Direitos."

Setores militares dos EUA igualmente defendem a tortura, mesmo que a prática ilegal poupe as vítimas de serem processadas. Foi o que aconteceu ao saudita Maad Al-Qahtani, suspeito de ter sido o 20º sequestrador dos aviões usados no 11 de Setembro, ao mauritano Mohamed Ould Salahi e a boa parte dos 170 prisioneiros de Guantánamo.

Segundo o New York Times, um dos detentos submetidos à tortura deu as pistas para a localização do mensageiro de Bin Laden, cujo nome de guerra era Abu Ahmed al-Kuwaiti. Autor do plano de ataque às torres do World Trade Center, Khalid Shaikh Mohamed passou pela simulação de afogamento 183 vezes, mas teria insistido que Kuwaiti não atuava mais para a Al-Qaeda. Em 2004, um militante preso no Iraque, Hassan Ghul, confirmou que o suspeito era de fato próximo de Bin Laden e de Abu al-Libi, substituto de Mohamed como chefe de operações.

A CIA solicitou ao Departamento de Justiça autorização para o uso de métodos "mais duros" no interrogatório de Ghul. Preso em 2005, Libi também foi interrogado, mas revelou o nome de outra pessoa. Os EUA concluíram que Mohamed e Libi estavam protegendo o verdadeiro mensageiro e mantiveram a perseguição a Kuwaiti, que os levou a Bin Laden.

Simulação de afogamento

LEON PANETTA DIRETOR DA CIA

"Claro que algumas valiosas informações foram obtidas nesses tipos de interrogatório. A questão que todo o mundo sempre debate é se esse procedimento deve ou não ser usado para extrair informações. Francamente, é uma questão em aberto"