Título: Musharraf disse a EUA que saudita vivia no país
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2011, Internacional, p. A14

Em pelo menos três ocasiões, o presidente do Paquistão de 2001 a 2008, o general Pervez Musharraf, disse a autoridades de alto escalão dos EUA acreditar que Osama bin Laden estava em território paquistanês. A informação consta em um pacote de nove telegramas secretos da diplomacia americana sobre as relações Washington-Islamabad divulgados ontem pela organização WikiLeaks.

Musharraf, porém, achava que o terrorista mais procurado do mundo estava nas montanhas de Bajur, região que integra a Federação de Áreas Tribais (Fata), na fronteira com o Afeganistão. Bin Laden foi morto no domingo em uma zona residencial de Abbottabad, a cerca de cem quilômetros da capital paquistanesa, Islamabad, e a poucos quilômetros de uma das principais academias militares do país.

"Repetindo declarações que já havia feito em encontro com o deputado John Tierney (democrata de Massachusetts), Musharraf disse que, apesar de não ter provas concretas, acreditava que os líderes da Al-Qaeda, Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri, estão escondidos em Bajur, pois a região está no território de Gulbuddin Hekmatyar (integrante do Taleban) e faz fronteira com a província afegã de Konar (onde não havia tropas dos EUA)", relata um dos telegramas, de abril de 2007.

Essa declaração do então presidente paquistanês teria sido feita ao senador republicano John McCain, uma das vozes mais influentes do Congresso - que no ano seguinte disputaria a presidência contra o democrata Barack Obama.

Musharraf teria afirmado que a paisagem registrada nos vídeos em que apareciam Bin Laden e Zawahiri, o número 2 da Al-Qaeda, era parecida com a de Bajur. A região paquistanesa ainda daria aos jihadistas "conforto e montanhas altas".

À Nancy Pelosi, deputada que presidia a Comissão de Relações Exteriores e era líder da maioria na Câmara, o ditador paquistanês dissera a mesma coisa três meses antes. Ele afirmou que o mulá Omar, líder do Taleban, não estava no Paquistão, "diferentemente" de Bin Laden.

Contradições. Ainda de acordo com os documentos divulgados ontem pelo WikiLeaks, não eram todos os integrantes do governo paquistanês que diziam a autoridades de Washington que Bin Laden estaria no país.

O atual premiê, Yousuf Raza Gilani, teria afirmado que "as agências de inteligência não fazem a menor ideia (de onde está Bin Laden), mas ele não está no Paquistão". A afirmação foi feita a dois senadores americanos.

Presidente paquistanês desde 2008, Asif Ali Zardari também foi enfático ao negar que o número 1 da Al-Qaeda teria buscado abrigo no país. "Osama não está no Paquistão", teria afirmado.

O mesmo discurso foi adotado pelo ministro da Defesa de Zardari, Kamran Rasool. Ao ser questionado pelo senador democrata Joseph Lieberman sobre a caça a Bin Laden, o general teria dito que "é injusto criticar o Paquistão por não ter encontrado esses homens".

Segundo o militar, os esforços antiterror de Islamabad poderiam ser comparados ao de qualquer outro país do mundo e o dinheiro dos EUA destinado ao Paquistão estava sendo "usado apropriadamente" contra grupos jihadistas. / AFP

Conversa

PERVEZ MUSHARRAF EX-PRESIDENTE PAQUISTANÊS

"Apesar de não ter provas, acredito que os líderes da Al-Qaeda, Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri, estão escondidos em Bajur (região do oeste do Paquistão)"

PARA LEMBRAR

Rumor sobre morte circulou em 2002

Em 2002, o então presidente do Paquistão, general Pervez Musharraf, afirmou que existiam "fortes evidências" de que o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, teria morrido ou que estava prestes a morrer nas montanhas do Afeganistão por "problemas renais". As declarações foram feitas pelo ditador, forte aliado do governo de George W. Bush, durante uma entrevista à rede de TV CNN.

Até o domingo, quando comandos da Marinha dos EUA invadiram a residência onde estava Bin Laden e o assassinaram, a própria inteligência americana acreditava que ele tinha problemas nos rins. Espiões de Washington especulavam que o líder da Al-Qaeda fazia hemodiálise frequentemente e, com base na informação, buscavam pistas sobre a compra desse tipo de aparelho médico.

Segundo disseram fontes da Casa Branca à agência de notícias Associated Press, os soldados de elite que invadiram o complexo de Abbottabad não encontraram aparelhos de hemodiálise. O governo americano não divulgou informações sobre o estado de saúde de Bin Laden antes de ele ser morto.