Título: Lupi vai criar novo índice de desemprego
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2011, Economia, p. B1

Ministro quer um índice que considere todo o País e não só as regiões principais, como ocorre com o do IBGE O aquecimento do mercado de trabalho e a insatisfação do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, com a taxa de desemprego medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também é atrelado ao governo, levarão à criação de mais um indicador até o final do ano: a Taxa de Emprego Real, elaborada pelo Ministério do Trabalho.

O índice, que também será divulgado mensalmente, será fruto do cruzamento das informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e do Sistema Nacional de Emprego (Sine), espécie de agência de empregos do governo que auxilia na medição da demanda e da oferta de mão de obra.

A duplicidade de informações oficiais sobre o mesmo tema não é nova. O governo já possui, por exemplo, duas informações mensais sobre as condições e projeções para a safra de grãos brasileira: uma do IBGE e outra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O ministro Lupi justificou a criação de um novo indicador do mercado de trabalho com a necessidade de nova abrangência e amostragem. "Vou dizer quantos brasileiros procuraram emprego formal, com número real, não é pesquisa. Sou chato com isso: é número real, não é pesquisa, repito", disse ao Estado.

Serão duas as principais diferenças entre os índices. Enquanto o IBGE faz sua pesquisa apenas em regiões metropolitanas, o ministério apresentará também os números do interior. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE é realizada em seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio, São Paulo e Porto Alegre).

Isso também explica o motivo de Lupi querer um novo índice: é que o interior tem apresentado uma robustez maior na criação de empregos do que os grandes centros urbanos.

O Caged de abril revelou que foram criadas 137,5 mil vagas com carteira assinada no interior de nove Estados analisados, enquanto nas regiões metropolitanas desses mesmos Estados a geração de postos formais foi de 99,8 mil. A amostragem é feita na Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio e São Paulo.

"Termômetro". Outra diferença em relação à PME é que o indicador do ministério apenas foca os números dos empregos com carteira assinada. Já por meio da pesquisa do IBGE é possível saber como anda o mercado de trabalho informal do País.

A intenção de Lupi é apresentar não só números gerais do emprego no Brasil, como também a abertura por setores e subsetores. "A Taxa de Emprego Real será um termômetro para políticas públicas do governo." Além disso, o ministro acredita que o indicador será usado pelo setor privado. "Eu quero uma coisa que diferencie e pegue o Brasil inteiro."

O economista da LCA Consultores Francisco Pessoa concorda que, com o aquecimento do mercado de trabalho, é importante ter informações mais detalhadas do que vem ocorrendo com o emprego em todo o País. Para ele, no entanto, no lugar de criar um novo índice, o ministro poderia apoiar a intenção do IBGE de ampliar a abrangência de sua pesquisa, conforme já foi sinalizado pelo instituto. "O IBGE apenas não aumentou sua amostragem por uma questão de recursos", disse Pessoa.

Ele disse que mesmo assim as informações do instituto são importantes porque captam também a tendência do mercado informal, o que não acontecerá com o indicador do ministério.