Título: Chávez volta à Venezuela e inicia mudanças no gabinete de governo
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2011, Internacional, p. A10

Ainda era madrugada quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, apareceu na porta do avião que o trouxe de Cuba até a Venezuela, onde pisou pela primeira vez em um mês. Enquanto seguidores lotavam a Praça Bolívar para ouvir o discurso que faria no final da tarde, o vice-presidente, Elías Jaua, anunciava "para hoje ou amanhã" o saldo das primeiras horas com Chávez: uma reunião do Conselho de Ministros para "reorganizar o gabinete".

Jaua não deu detalhes sobre a reforma ministerial, mas analistas não descartam a possibilidade de o presidente nomear um novo vice. A julgar por afirmações de aliados, Chávez pode alçar seu irmão, Adán, governador do Estado de Barinas, a uma posição próxima da presidência.

Mais magro, mas aparentando boa disposição, Chávez foi recebido por Jaua e pelo chanceler Nicolás Maduro. "Volto ao epicentro de (Simón) Bolívar. E isso é pura chama, pura vida. É só o início do retorno", disse no aeroporto.

No fim da tarde, Chávez compareceu com uniforme militar ao Palácio de Miraflores. Diante de milhares de seguidores, agradeceu o apoio do povo, a Deus e a Fidel Castro. Revelou que a segunda cirurgia, feita no dia 20, durou seis horas e permaneceu na UTI até o dia 24. "Que ninguém pense que minha presença aqui, neste 4 de julho, significa que vencemos a batalha. Começamos a vencer o mal que se instalou em meu corpo, mas temos de seguir um estrito controle médico. Juro que ganharemos esta batalha. Viveremos e venceremos", disse.

Chávez saudou os militares venezuelanos e levantou um crucifixo que disse ter erguido no mesmo local em 14 de abril de 2002, após debelada a tentativa de golpe contra ele. A palavra "retorno" foi repetida diversas vezes durante o discurso. A imagem do líder que sempre volta deve ser a tônica da estratégia até as eleições de novembro de 2012.

Ao chegar, disse que não poderia participar de todos os atos oficiais das celebrações do bicentenário da independência do país, que terminam amanhã, para não violar as recomendações médicas de dieta rigorosa e repouso.

Ele não voltava à Venezuela desde que saíra para visitas oficiais a Brasil, Argentina e Cuba, onde sentiu fortes dores abdominais e foi submetido a cirurgias para a retirada de tumores cancerígenos. O órgão exato afetado não foi revelado.

Mario Silva, âncora do programa La Hojilla, da estatal VTV, lembrou que Adán "não é só irmão do presidente, mas tem um papel histórico na construção da revolução bolivariana" - em resposta a um artigo do New York Times que especulava sobre uma solução à cubana, com Chávez instalando o irmão no poder enquanto luta contra o câncer.

Para a ex-juíza Cecilia Sosa, presidente do Supremo Tribunal entre 1996 e 1998, Chávez violou a Constituição nos últimos 30 dias ao dirigir o país de Havana. "O que posso dizer é que Chávez transferiu Miraflores para a capital cubana e as Forças Armadas receberam ordens que vinham de Cuba", disse. "Foi uma transgressão clara do artigo 8.º da Constituição." Desde que Chávez informou ter sido internado em Cuba, a oposição passou a exigir que o presidente se declarasse em "ausência temporária" e transferisse seus poderes ao vice. O líder do partido democrata-cristão Copei, José Alberto Zambrano, atribuiu a volta repentina à crise do PSUV, que ele considera dividido, e aos problemas que o governo não consegue resolver.

CRONOLOGIA

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