Título: Indiciamentos ameaçam reacender conflitos com a Síria
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2011, Internacional, p. A12

Primeiras suspeitas da morte de Hariri recaíram sobre o regime de Assad, que apoio Hezbollah Indiciamentos ameaçam reacender conflitos com a Síria

O Estado de S.Paulo BEIRUTE - O indiciamento pelo Tribunal Especial da ONU de integrantes do Hezbollah suspeitos da morte do ex-primeiro-ministro do Líbano Rafik Hariri em um atentado em 2005, pode reacender antigos conflitos com a Síria. O envolvimento do grupo radical xiita no assassinato do líder é uma péssima notícia para o presidente Bashar Assad, sob forte pressão interna de grupos opositores pró-democracia.

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Por outro lado, os problemas na Síria podem evitar que o Hezbollah reaja com violência à decisão do tribunal. ¿Para o Hezbollah, uma escalada (da violência) não vale a pena¿, disse Mohamed Shatah, ex-consultor de política externa de Saad Hariri, filho do premiê assassinado. Segundo Shatah, o grupo xiita estaria mais preocupado agora com os acontecimentos atuais e o futuro da Síria.

Jogo duplo. No rastro da primavera árabe, a Síria enfrenta protestos massivos e a condenação da comunidade internacional. Na semana passada, a União Europeia aprovou um pacote de sanções ao país por causa da repressão contra manifestantes opositores.

Nos primeiros dias que se seguiram ao atentado contra Hariri, as suspeitas recaíram sobre o regime sírio, que apoia abertamente o Hezbollah e não estaria interessado em um Líbano independente.

A Síria nega envolvimento no ataque, que matou outras 23 pessoas, mas as suspeitas, na época, levaram à retirada das tropas sírias do território libanês após 29 anos de ocupação.

Imediatamente, os sunitas do Líbano acusaram Damasco pela morte do premiê e usaram como argumento o aumento das tensões entre os dois países pouco antes do atentado. Eles exigem que o atual premiê, Najib Mikati, contribua de forma irrestrita com o tribunal.

Lidar com o caso será um dilema para Mikati, cuja estabilidade do governo depende da sustentação dada pelo Hezbollah. O apoio ao tribunal causou a queda do primeiro-ministro Saad Hariri, filho Rafik, no início do ano.