Título: UE deve recomprar bônus da dívida grega
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2011, Economia, p. B1

Analistas financeiros dizem que essa deverá ser a estratégia adotada pela União Europeia nos próximos dias para tentar superar a crise

John Kolesidis/ReutersMais uma. Taxistas gregos iniciaram ontem greve de dois dias contra pacote de austeridade A União Europeia (UE) deve optar pela estratégia de recompra de títulos da dívida grega pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef) nos mercados secundários - onde se negociam os bônus já emitidos, segundo analistas ouvidos pelo "Estado".

Esses investidores têm em mãos papéis com 55% de desvalorização neste momento. Resta saber que porcentual de perda será aceito pelos maiores credores da Grécia. "Nós estamos provavelmente caminhando para a compra de bônus pelo Feef. E, nesse intervalo, provavelmente será feita uma proposta ao sistema bancário para que aceitem rolar parte das dívidas", disse, Jean-Luc Proutat, diretor de países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) do banco BNP Paribas.

Nesse caso, o Banco Central Europeu (BCE) continuaria a prover liquidez aos bancos gregos, evitando um calote oficial da Grécia.

Ontem, a ministra do Orçamento da França, Valérie Pécresse, indicou que o acordo sobre uma estratégia global para enfrentar a crise - cada vez mais considerada sistêmica, e não mais isolada na Grécia - está próximo. "A única questão a decidir diz respeito à participação do setor privado no plano de salvamento", disse a executiva. "É preciso que ele atinja seus objetivos sem impactar a estabilidade da zona do euro, ou seja, sem fazê-la perder a atratividade para os investidores."

Na quinta-feira, os líderes dos 17 países da zona do euro têm encontro previsto em Bruxelas.

Infraestrutura. A novidade das últimas horas de negociação é que, além de bilhões para pagar as dívidas, a Grécia pode receber um pacote de investimentos em infraestrutura destinado a recolocar a economia grega na rota do crescimento. Os gastos seriam gerenciados por fundos europeus - que já investiram na Grécia durante a adesão do país ao bloco.

Caso se confirme, o programa representará a admissão por Bruxelas de que as sucessivas exigências de cortes de gastos e de rigor fiscal, impostas pela UE e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) há 18 meses, por si só, não encerrarão a crise de credibilidade. Na Europa, são cada vez mais fortes as críticas de que a recessão na periferia do continente estaria dificultando ainda mais o equilíbrio orçamentário.

Portugal. Enquanto os olhos estão voltados para Grécia e para Itália, Portugal decidiu anunciar ontem o aprofundamento de seu programa de austeridade. Recém-empossado, o novo primeiro-ministro, o social-democrata Pedro Passos Coelho, informou que precisa cobrir um novo buraco de ? 2 bilhões nas contas públicas em 2011.

Para tanto, será criado um novo imposto, temporário, com o objetivo de arrecadar ? 1,2 bilhão. Os outros ? 800 milhões sairão da redução do custeio do Estado. Portugal já conta com um programa de socorro de ? 78 bilhões com o objetivo de sanear suas finanças. O objetivo estabelecido em 2011 é reduzir o déficit público a 5,9% do Produto Interno Bruto (PIB).