Título: Investimento cresce pouco com o PAC
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2011, Economia, p. B9

Estudo mostra que programa do governo só conseguiu ampliar participação no PIB dos investimentos em infraestrutura de 2,05% para 2,53%

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não conseguiu ampliar substancialmente o investimento em infraestrutura em relação ao crescimento da economia. Segundo estudo apresentado ontem pelo economista Claudio Frischtak, da InterB Consultoria, em seminário na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio, o Brasil investiu apenas o equivalente a 2,53% do PIB em 2010, considerado o auge dos projetos do PAC.

Entre 2007 e o ano passado, o volume de recursos em infraestrutura quase dobrou, mas o crescimento não foi proporcional na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB). O total aplicado em 2007 foi de R$ 54,5 bilhões, ou 2,05% do PIB.

No ano passado o volume subiu para R$ 93 bilhões com o PAC, mas representava 2,53% do PIB, um avanço de 0,48 ponto porcentual. Na média entre 2008 e 2010, essa proporção foi de 2,62% do PIB.

"O que espanta é que depois de todo o esforço do governo com o PAC os investimentos subiram menos de 0,5% e pararam aí, não há sinal de que vai continuar crescendo", disse Frischtak.

Para ele, mais preocupante ainda é o fato de o PAC não ter atraído a iniciativa privada para projetos de infraestrutura, apesar das limitações fiscais do governo. Do avanço de 0,48 ponto, só 0,07% veio do setor privado. O restante saiu da expansão dos aportes do governo e de estatais.

"Independente de ideologia, não temos escolha. Integrar o setor privado ao investimento em infraestrutura é a única saída", afirmou o economista, que defende a aplicação de 6% do PIB anuais em infraestrutura, sendo 4% da iniciativa privada, por 20 anos.

O economista da FGV, Pedro Cavalcanti, mostrou que o aumento da carga tributária como forma de financiar o aumento do investimento público em infraestrutura traria perda de produto no curto prazo, demandando pelo menos uma década para que esse estoque de capital beneficiasse a economia. Já a elevação dos investimentos públicos a 5% do PIB com o corte de despesas poderia promover crescimento de até 8% no longo prazo.

Para Armando Castelar, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), o Brasil investe pouco em infraestrutura, deixando um hiato que ele estimou em 3% do PIB em inversões no setor para a próxima década. Estimativa da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib) indica que o País precisa aplicar pelo menos R$ 161 bilhões no setor por ano e citou a falta de ambiente regulatório confiável como um ponto que afasta investidores.

"A percepção que tenho é de que, na área de infraestrutura, falta estratégia. O vai e vem no caso dos aeroportos, por exemplo, mostra que estamos longe de uma solução sistêmica para a infraestrutura. Tudo é decidido caso a caso", criticou Castelar. Frischtak fez a mesma observação e citou o escândalo em torno das denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes como sinal da baixa importância que o governo dá à logística.

TRÊS MOTIVOS PARA...

Investimentos reduzidos

1. A baixa eficiência dos gastos públicos amplia os efeitos da restrição fiscal que impede o governo de ampliar os investimentos em infraestrutura.

2. O ambiente de insegurança jurídica e regulatória inibe a participação da iniciativa privada.

3. Falta estratégia clara do governo para o setor, com estruturação de projetos e uniformização de modelos. Concessões são definidas caso a caso.