Título: EUA ainda preocupam e bolsas caem
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2011, Economia, p. B1

Nem acordo sobre aumento do teto da dívida pública tranquiliza investidores, que agora temem que corte de despesas cause recessão

O aguardado acordo dos políticos americanos para elevar o teto da dívida do país saiu. Os mercados chegaram a comemorar, sobretudo na Ásia. Mas logo os investidores se deram conta de que a economia dos Estados Unidos continua fraca, situação que tende a agravar-se com os cortes de despesas definidos na negociação entre democratas e republicanos. Resultado: as bolsas abriram a semana com baixas em todo o Ocidente.

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) perdeu 0,49%, o Índice Dow Jones (o mais tradicional da Bolsa de Nova York) se desvalorizou 0,09% e a Nasdaq, 0,43%.

Na Europa, o principal índice da Bolsa de Frankfurt (DAX) recuou 2,86% e o da Bolsa de Londres (FTSE), 0,70%. Na França, o CAC-40 teve queda de 2,3%. Em Milão, a baixa chegou a 3,87%, em Madri, 3,24% e em Lisboa, 2,47%.

Hoje, na abertura dos mercados da Ásia, o índice Nikkei da Bolsa de Tóquio apresentava queda de 0,93%.

Temores. O raciocínio dos investidores é o mesmo que tantas críticas suscitou na história do Fundo Monetário Internacional (FMI). Quando um país recorria ao Fundo, o receituário para ser socorrido incluía pesados cortes orçamentários.

Em economias já debilitadas, as medidas se mostravam mortais. Ao cortar despesas, o governo tirava dinheiro - e fôlego - da economia. Muitas vezes, a receita provocava recessão.

O outro temor que tomou conta do mercado está relacionado à possibilidade de os Estados Unidos terem a nota de crédito (rating) rebaixada pelas agências de classificação de risco - apesar do acordo sobre o aumento da dívida.

Como explica o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, várias instituições (como fundos de pensão e de investimento) não podem aplicar recursos em ativos que não tenham a nota máxima dessas agências (AAA).

Segundo ele, não se sabe exatamente o que isso significa em valores. Mas há uma certeza: está se falando de trilhões de dólares.

Além disso, Rosa lembra que bancos do mundo todo - sobretudo dos EUA - têm parte de suas reservas aplicadas em títulos públicos americanos. Se esses papéis são "rebaixados", tendem a perder valor. Se perdem valor, os bancos são obrigados a colocar dinheiro vivo para compensar a queda. É um dinheiro que deixa de virar crédito.

Em outras palavras, trata-se de mais um canudo que drena recursos de uma economia que precisa deles para voltar a crescer. Na sexta-feira, o governo americano informou que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu bem menos do que os analistas projetavam no segundo trimestre. A expansão foi de 1,3% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A expectativa era de que tivesse havido um avanço de 1,8%.

Prazo final. O acordo, aprovado ontem à noite pela Câmara, será votado hoje no Senado e prevê a elevação imediata de US$ 900 bilhões no teto da dívida (hoje em US$ 14,3 trilhões) - pode chegar a US$ 2,4 trilhões, num segundo momento. Em troca, o governo se compromete com cortes de até US$ 2,1 trilhões até 2022. Hoje é o prazo final definido pelo Tesouro para a elevação do limite da dívida do país.

"O desempenho do setor privado tem sido fraco nos Estados Unidos. Sobra o setor público para resolver, mas, com a redução das despesas, fica difícil", disse o estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani.