Título: Proporção de católicos tem baixa recorde
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2011, Vida, p. A19

Pela 1ª vez, índice de brasileiros que se dizem católicos fica abaixo dos 70%, mostra estudo

Na semana em que o Rio foi confirmado como sede da próxima Jornada Mundial da Juventude - encontro que terá a presença do papa Bento XVI, em julho de 2013 -, o Novo Mapa das Religiões da Fundação Getúlio Vargas (FGV) informa que a proporção de católicos em 2009 foi a menor registrada em quase 140 anos de pesquisas estatísticas no País.

Embora continue maioria, a população católica chegou a 68,43% do total de brasileiros, o equivalente a 130 milhões de pessoas. Pela primeira vez a proporção foi menor de 70%.

A pesquisa também apontou estagnação da proporção de evangélicos pentecostais (de igrejas como Assembleia de Deus e Universal do Reino de Deus), que teve grande crescimento nos anos 1990, e aumento do evangélicos tradicionais (batistas, presbiterianos, luteranos, etc). Cresceram também os que se dizem sem religião.

Coordenador do trabalho, o economista Marcelo Neri comparou dados de censos de 1872 a 2000 e atualizou com informações das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POFs), do IBGE, de 2003 e de 2009. Nos seis anos entre as duas POFs, a proporção de católicos caiu 7,3%, passando de 73,79% a 68,43%. A queda mais acentuada aconteceu entre os jovens de 10 a 19 anos, principal alvo do encontro de 2013 no Rio. A proporção de jovens católicos caiu 9%, de 74,13% a 67,48%.

Neri associa os avanços econômicos na última década ao aumento de 38,5% dos evangélicos tradicionais (de 5,39% a 7,47%), enquanto os pentecostais tiveram crescimento ínfimo, de 12,49% em 2003 a 12,76% em 2009. "Os pentecostais têm um tipo de doutrina que se adapta bem a épocas de crise, de desemprego, de violência", define Neri. "A nova classe média se aproxima do conservadorismo e de um espírito capitalista mais parecido com o protestante, com o evangélico tradicional, que com o católico, com valorização do trabalho, da educação, da acumulação de capital", diz.

Embora mais religiosas que os homens, as mulheres são menos católicas há algumas décadas. Há maior proporção do sexo feminino nas religiões evangélicas e espiritualistas. "Questões centrais para as mulheres, como contracepção, divórcio e aborto são tabus para a Igreja Católica, que tampouco incentivou sua conquista profissional", diz o estudo.

Para socióloga especialista em estudos da religião Sílvia Fernandes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), dados recentes confirmam a tendência da década passada de "experimentações religiosas", que fizeram o brasileiro deixar o catolicismo para conhecer outros credos. "Nesse movimento de experimentação em um país culturalmente católico, quem perderá mais é o catolicismo", diz.

Um dado que reforça essa tese é o aumento nas outras religiões. O porcentual, embora pequeno, mais que dobrou entre 2003 e 2009, de 1,03% para 2,23%. Esta categoria reúne de mórmons a seguidores do Santo Daime. Também cresceram os que seguem religiões de origem africana.

Sílvia é cautelosa na análise dos dados que apontam o crescimento das pessoas sem religião, de 5,13% a 6,72% - aumento de 31%. Para ela, os que se dizem sem religião não são apenas os ateus e agnósticos. "O crescimento dos sem religião reforça essa tese da experimentação. Ouvi muita gente se dizer sem religião porque não existe mais a vergonha de dizer que não é católica. Mas não quer dizer que não tenham fé", conta a socióloga.

O Rio é o Estado com a segunda menor proporção de católicos, com 49,83%, na frente apenas de Roraima (46,78%). A capital tem 53,7% de católicos e 13,3% de pessoas sem religião.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi procurada pelo Estado para comentar o estudo. Sua assessoria informou que os bispos ainda não retornaram de Madri, onde participaram da 26.ª Jornada Mundial da Juventude.