Título: Complô contraria modo de ação típico de brigada iraniana
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2011, Internacional, p. A12

A Brigada al-Quds, unidade de elite de operações internacionais dentro da Guarda Revolucionária do Irã, tradicionalmente se aferrou estritamente à sua principal preocupação, o Oriente Médio, e quase sempre trabalhou por associação, dificultando o rastreamento de suas digitais. Algumas das associações mais infames incluem o Hezbollah no Líbano, o grupo palestino Hamas, o Exército Mehdi no Iraque e alguns elementos do Taleban no Afeganistão.

Especialistas consideram espantoso e atípico que a Brigada al-Quds se associasse tão publicamente a um ataque terrorista em solo americano - como o suposto plano contra o embaixador saudita - particularmente numa época em que o Irã enfrenta um alto grau de escrutínio e pressão internacional sobre seu programa nuclear.

"Seu modus operandi é não fazer as coisas sozinhos, eles se associam a outros", disse Afshon P. Ostovar, um analista que escreve um livro sobre a Guarda Revolucionária. "Isso seria absolutamente sem precedente, ao menos na última década para a Guarda Revolucionária, e mesmo para a república islâmica", disse.

A Brigada al-Quds nasceu do Escritório dos Movimentos de Libertação que foi formado logo após a Revolução Iraniana para ajudar movimentos radicais, especialmente no Oriente Médio. Ela é hoje um dos cinco ramos da Guarda Revolucionária, o mais independente - seu comando presta contas diretamente ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.

Acredita-se que ela seja o baluarte do fervor revolucionário, com algo entre 5 mil e 14 mil soldados tirados da elite dos outros ramos. Ahmad Vahedi, o atual ministro da Defesa, foi um comandante da brigada. Ele está sendo procurado pela Interpol por causa do papel do Irã na trama do atentado a bomba em 1994 contra um centro cultural judaico na Argentina. Outros ataques notórios atribuídos à brigada incluem o atendado a bomba às Torres Khobar na Arábia Saudita, em 1996, e os assassinatos de opositores iranianos na Europa.

O novo cenário do mundo árabe voltou a desgastar as relações entre Teerã e Riad. O Irã parece ter prevalecido no Iraque e no Líbano, onde antigos governos solidamente sunitas foram suplantados. No Bahrein, a Arábia Saudita interveio para aplacar um levante popular da população majoritariamente xiita. Mas especialistas acharam bizarro que os iranianos tenham transferido suas guerras por associação para solo americano. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK