Título: Na Amazônia, área com soja quase dobra em 1 ano
Autor: Frorife, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2011, Vida, p. A14

Mato Grosso, Rondônia e Pará Lideram o aumento; para ministra do Meio Ambiente, reforma do Código tem influência

Quase dobrou a área plantada com soja no bioma Amazônia dos Estados de Mato Grosso Pará e Rondônia no último ano agrícola, segundo o Grupo de Trabalho da Soja, formado por governo, setor privado e sociedade civil. Da safra 2009/2010 para a passada, a área de plantio do grão subiu de 6,3 mil hectares para 11,7 mil hectares na região. O monitoramento também foi ampliado, passando de 302 mil hectares para 375 mil hectares.

Apesar de considerar um avanço pequeno, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira mostrou descontentamento com a expansão da produção no bioma. "E residual o aumento do desmatamento, mas houve crescimento", disse. Mesmo assim ela afirmou ontem que o desflorestamento no País está "totalmente controlado".

A elevação foi atribuída pela ministra a Mato Grosso e Pará. "Nesses dois Estados, tivemos picos de desmatamento. Isso está associado às discussões sobre o Código Florestal e do equívoco de que levaria a uma anistia."

Avaliação semelhante é do coordenador do Greenpeace, Paulo Adário. Segundo ele, o impasse na apreciação do Código pelo Congresso vem sendo usado como alegação para que produtores não se cadastrem no programa Moratória da Soja.

A Moratória da Soja começou em 2006 e tem o compromisso das indústrias e de exportadores de não adquirirem produto de áreas desflorestadas no bioma Amazônia.

De acordo com o programa, a área de produção da oleaginosa localizada em desflorestamentos na região desde o início da moratória corresponde a 0,28% de todo o desmatamento, 0,05% da área de cultivo do grão ou 3,1% do desflorestamento dos municípios produtores de soja.

Conforme o coordenador do Greenpeace, com a ajuda da tecnologia é fácil identificar áreas desmatadas. "Difícil é saber quem desmatou: a cara de quem fez isso não sai nas fotos de satélites", afirmou.

Renovação. Ontem, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli, anunciou que o programa será renovado por mais um ano. "Moratória " é uma palavra provisória, mas vamos estender por mais uma safra." Ele. salientou que, além de não comprar, as empresas do setor se comprometem a não financiar plantação de soja em áreas desmatadas. "A soja não é o principal vetor de desmatamento no bioma amazônico", defendeu.

O principal destino da soja que é plantada fora do acordo é a China, segundo o coordenador de sustentabilidade e meio ambiente da Abiove, Bernardo Pires. "A China é um país que não faz exigências, mas também não concede garantias", considerou.

De acordo com ele, a Abiove e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que também aderiu ao programa, congregam 90% da indústria brasileira.

Preservação de sementes é preocupação antiga

A preservação de sementes é um assunto estratégico que por milênios mobiliza recursos em diversas civilizações. De 8000 ªC na Mesopotâmia ao atual projeto da Noruega de um estoque global de sementes ¿ em uma espécie de caverna a 1,3 mil quilômetros do Pólo Norte -, a questão da preservação dos alimentos é considerada fundamental por governos e cientistas.

A questão da segurança também vem ganhando nova dimensão. Durante a guerra do Iraque e do Afeganistão, os estoques que esses países mantinham foram destruídos. Não eram de grandes proporções, mas cientistas crêem que algumas variedades de sementes exclusivas da região foram perdidas.

Os desafios climáticos também fazem parte das ameaças. Em Honduras e nas Filipinas, bancos genéticos foram perdidos após desastres naturais. / J.C.