Título: Parentes de brasileiro vítima do Hamas são a favor de libertações
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2011, Internacional, p. A11

Apesar de aprovar a troca, família de Giora Balazs lamenta a liberdade da palestina mentora do ataque

SÃO PAULO - Filho de judeus húngaros, o brasileiro Giora Balazs foi morto aos 69 anos no atentado contra a pizzaria Sbarro, em Jerusalém, em agosto de 2001. Sua mulher, Flora, e sua filha, Deborah, ficaram feridas, mas sobreviveram. Ontem, em entrevista ao Estado, ambas disseram que, apesar de a mentora do ataque, Ahlam Tamimi, estar na lista dos palestinos que serão libertados em troca do sargento Gilad Shalit, elas são a favor da negociação pela soltura do militar.

Andrew Winning/REUTERSPresos palestinos liberados hoje por IsraelACOMPANHE AO VIVO A COBERTURA COMPLETA

"Tenho filhos e não gostaria que um filho meu estivesse nas mãos do Hamas. Concordo com a atitude do governo (de Israel). Nada trará as pessoas que eles já mataram de volta. Mas lamento (as libertações), pois tenho medo e certeza de que esses palestinos farão outras vítimas", disse Flora, confeiteira aposentada, de 65 anos, que sofreu queimaduras no atentado e passou dez dias internada.

A museóloga Deborah, de 45 anos, ficou sabendo que Ahlam seria libertada pelo rádio, durante o fim de semana. "Fiquei triste e chocada. Preferia que o nome dela não estivesse na lista. Mas sou a favor da troca, acho que isso pode ser a semente para a retomada das negociações. Isso (a negociação entre israelenses e o Hamas) foi uma decisão política de Israel. Quem sabe isso não seja o comecinho, uma semente para a paz. Se isso se concretizar, a decisão do governo israelense terá sido muito boa."

Acompanhado da filha e da mulher, Giora foi a Israel para o casamento de seu primogênito. Antes da festa, porém, o trio resolveu visitar o Muro das Lamentações, em Jerusalém. A família procurava um ônibus que os levasse ao local quando foi atingida pela explosão, que deixou 15 mortos.

"Meu pai morreu no local mesmo. Eu e minha madrasta ficamos muito machucadas e queimadas por causa da bomba", lembrou Deborah. O casamento foi adiado até o fim do luto de sete dias, em respeito à tradição judaica. Acabou realizado sem festa, conforme os costumes, na sinagoga do hospital onde Flora permaneceu internada.

Todos os anos, a família de Giora viaja a Israel a convite do governo para visitar o túmulo do brasileiro, que, no fim da vida, vendia os doces que sua mulher fazia para restaurantes judaicos de São Paulo.