Título: Economia é maior desafio de Cristina Kirchner na Argentina
Autor: Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2011, Internacional, p. A13

Presidente reeleita terá de combater a inflação e criar novos empregos em um contexto de crise

BUENOS AIRES - Desde que os Kirchners chegaram ao poder, em 2003, a Argentina teve formalmente seis ministros da Economia, isto é, um a cada 16 meses. No entanto, em sete dos último oito anos, Néstor, marido de Cristina morto há um ano, foi o "superministro virtual". Sem o ex-presidente, a economia esteve nas mãos de Amado Boudou, vice-presidente eleito no domingo, que terá de entregar o cargo na posse, em dezembro.

"A situação agora é complexa. Será necessário um comando forte da economia para enfrentar a crise mundial, além dos diversos problemas que o governo empurrou com a barriga", afirmou ao Estado o economista e ex-secretário de Comércio Raúl Ochoa. Segundo ele, os ajustes são urgentes. "Todos os setores da economia estão amplamente subsidiados, entre os quais a energia elétrica, o gás e o transporte. O volume de subsídios é de US$ 17 bilhões."

Economistas e empresários, incluindo aqueles que respaldam o governo, afirmam que é preciso tomar ações concretas e acusam o ministro Boudou de ter gastado muito tempo tocando rock com sua guitarra em cerimônias oficiais e comícios - em referência ao hobby do novo vice-presidente da Argentina.

Entre os desafios de Cristina está a escalada inflacionária, que este ano chegará a 25%, embora o governo, acusado de "maquiar" as estatísticas, afirme que não passará de 9%. Com a inflação, aumentou a pobreza.

Simultaneamente, Cristina terá de lidar com as exigências de aumentos salariais de mais de 30%, reivindicadas pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), maior central sindical do país, liderada pelo caminhoneiro Hugo Moyano, com a qual a presidente Cristina tem crescentes tensões. Moyano, principal apoio do governo na área social, está irritado porque a presidente se recusou a colocar sindicalistas nas listas de deputados.

O governo terá ainda de conter a persistente fuga de capitais, que deve atingir US$ 24 bilhões este ano. O economista Raúl Ochoa afirma que a política econômica de Cristina pode ser resumida como um "capitalismo de amigos com um verniz peronista".

O Instituto de Estudos da Realidade da América Latina (Ieral), da Fundação Mediterrânea, anunciou que na última meia década o Estado argentino criou 23,6% dos novos postos de trabalho. Essa proporção é superior ao crescimento da construção civil (4,7%) e a indústria (9,6%).

O crescimento coincide com os últimos anos de kirchnerismo, quando a proporção de argentinos com trabalho formal empregados pelo Estado chegou a 18,6%. Segundo o relatório do Ieral, entre 1994 e 2011, a população cresceu 19%, enquanto o funcionalismo público aumentou 350%. O número de empregos na atividade privada cresceu somente 71% no mesmo período.