Título: Dólar é uma obsessão do país há décadas
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2011, Economia, p. B8

Em 1953, diante de uma multidão que se acotovelava na Praça de Mayo, o general e presidente Juan Domingo Perón, da sacada da Casa Rosada, o palácio presidencial, fez uma pergunta em tom de desafio: "Quem aí viu um dólar de perto?".

Perón tentava atenuar a crescente importância que a moeda americana ganhava no pós-guerra, já que esta começava a despertar o interesse dos argentinos, cansados dos constantes altos e baixos da economia local.

Nas quase seis décadas seguintes o frisson dos argentinos pelo dólar continuou crescendo e transformou-se em parte da cultura local, a ponto de gerar um vocabulário próprio (ver quadro acima).

Motivos havia de sobra, já que nesse período a Argentina passou por treze graves crises econômicas (com desvalorizações repentinas do peso, confiscos bancários, recessão e hiperinflação) que levaram os habitantes deste país a buscar a segurança da moeda americana.

Paridade. Ao contrário dos brasileiros, cuja economia nunca foi dolarizada, os argentinos refugiaram-se na moeda americana mesmo durante a conversibilidade econômica, quando o governo garantia a paridade entre as moedas dos Estados Unidos e da Argentina.

Segundo autoridades americanas os argentinos são o segundo povo estrangeiro mais dolarizado no mundo, atrás - obviamente - dos americanos. Os russos estão em terceiro lugar no ranking.

Os argentinos possuem US$ 130 bilhões fora do sistema financeiro, tanto em contas no exterior, caixas de segurança ou dentro do tradicional colchão e outros refúgios domésticos.

Do total de dólares vendidos ao público argentino em 2011, 80% foram comprados por pequenos e médios poupadores.

Os analistas financeiros destacam que o dólar é o refúgio tradicional das classes médias por causa da variação de preços, enquanto as elites têm ferramentas mais "sofisticadas", como ações de empresas e outras aplicações. / A.P