Título: Produção industrial tem queda de 2%
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2011, Economia, p. B8

Resultado negativo de setembro foi motivado pelas importações e menor otimismo dos empresários; foi o maior recuo desde abril

A produção da indústria recuou forte na passagem de agosto para setembro: -2%, o maior recuo desde abril. As importações e o menor otimismo do empresariado teriam contribuído para o mau desempenho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado fez analistas revisarem suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, e há quem aposte em ligeira recessão.

"Todo mundo vai ter de reajustar as previsões para o PIB a partir desse dado", alertou Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "É uma retração importante e que pode sinalizar que a indústria ainda tenha resultados negativos este ano."

A queda foi puxada, sobretudo, por uma forte redução na produção de veículos automotores (-11%). Mesmo a fabricação de caminhões, que vinha ajudando a sustentar a indústria, registrou recuo. O mesmo ocorreu com a produção de aviões e motos. "Não quer dizer que seja uma tendência, mas esses itens que iam bem acabaram impactando a produção tanto de bens de capital quanto de bens duráveis", notou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

A produção de bens de consumo duráveis caiu 9,0%, e a queda de 5,5% na produção de bens de capital foi a maior desde fevereiro de 2009, auge da crise econômica mundial. Além dos resultados negativos de caminhões, contribuíram para as perdas de bens de capital os setores de máquinas e equipamentos, outros equipamentos de transporte e máquinas para o setor elétrico.

No caso da produção de veículos automotores, que tem um impacto de 11% na formação do índice geral da indústria, as empresas concederam férias coletivas, paralisando várias unidades em uma tentativa de ajustar os estoques, que estariam em um nível bem mais alto que o desejado.

"Algumas fábricas ficaram dois ou três meses paradas. Isso acabou afetando não só a produção de automóveis, mas também a produção de bens de capital, porque afeta a produção de caminhões e veículos de transporte", explicou Macedo.

O economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada, acredita que, embora os próximos meses costumem render um alento sazonal para a indústria, ele não deve ser suficiente para recuperar os baixos níveis de produção registrados no ano. A Tendências revisou sua projeção para a expansão na indústria em 2011. "A nossa projeção ficou um pouco caduca, o número de fato é mais baixo, passamos de 2,0% para 1,0%", disse Bacciotti, que vê no setor externo a principal causa do prejuízo no mercado doméstico.

O pesquisador Leonardo Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), lembrou que os aumentos sucessivos na taxa básica de juros no primeiro semestre de 2011 estão afetando a indústria. A turbulência internacional também teria abalado a confiança do empresariado, inibindo investimentos. "Isso explica bem a queda na produção de bens de capital", disse.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 02/11/2011 06:52