Título: Reunião trouxe poucos avanços, mas atendeu objetivos do Brasil
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2011, Economia, p. B6

País obteve vitórias na cúpula do G-20, uma delas a de impedir regras globais para controlar o fluxo de capitais

CANNES

Ao ser questionada pela imprensa ao término da cúpula do G-20 sobre sua avaliação do evento, a presidente Dilma Rousseff usou uma fórmula que mostra ao mesmo tempo frustração e satisfação: "sucesso relativo". A expressão resume uma reunião em que pouco se evoluiu em termos globais, mas atendeu os principais objetivos do Brasil. As convergências são múltiplas entre as pautas que mais interessavam ao governo e a declaração final do evento. A começar pelo discurso desenvolvimentista, que enfatizou a necessidade de substituir a lógica da austeridade pura e simples, adotada como regra na Europa, pelado estímulo ao crescimento, ao fomento dos mercados internos e pela geração de emprego e renda. Essas palavras de ordem já haviam sido empregadas à exaustão pela presidente em sua visita a Bruxelas em outubro, e ontem constavam da declaração final do G-20 como diretrizes para as 20 maiores economias do mundo. Além disso, o Brasil ganhou várias quedas de braço na França. Uma das mais importantes foi impedir que o G-20 definisse regras globais para o controle de fluxo de capitais. Até o primeiro semestre, Paris e Washington – por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI) – tentavam incluir parâmetros de ação válidos para o mundo todo. Preocupada em ver o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) marginalizado, a diplomacia brasileira foi a campo e evitou a criação de uma regulamentação. Não bastasse, obteve o reconhecimento da soberania de cada país na adoção das medidas. Em outro ponto de honra para o Brasil, a declaração final do G-20 encampa a luta contra as desvalorizações competitivas – embora não traga a expressão "guerra cambial", forjada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Nós nos comprometemos a nos orientar mais rapidamente em direção a regimes de câmbio mais ligados ao mercado, a aumentar a flexibilidade das taxas de câmbio para refletir os fundamentos econômicos", diz o texto, que completa com um recado indireto à China: "Evitar os desalinhamentos persistentes de taxas de câmbio e nos abster de realizar desvalorizações competitivas de moedas". A lista de temas de interesse do Brasil inclui ainda o imposto sobre transações financeiras – outra forma de legitimar o IOF– e o mercado agrícola. Em dezembro de 2010, no início das discussões sobre o G-20 de Cannes, a França chegou a ensaiar uma proposta de criação de estoques reguladores globais e de controle de preços. Ontem a cúpula fechou acordo apenas sobre a" melhora da regulação e da supervisão dos mercados derivados de matérias-primas". / A.N.