Título: Presa, ativista perde prazo para registro de sua candidatura
Autor: Trevisan, Claúdia
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2011, Internacional, p. A22

Wu deveria ser solta no dia 13 e ficou mais 11 dias em cárcere, segundo ela, uma estratégia para mantê-la longe das urnas

Wu Lihong ficou presa entre os dias 29 de setembro e 24 de outubro, no que ela afirma ter sido uma estratégia da polícia para impedir o registro de sua candidatura. Ainda assim, ela mantém a disposição de disputar a eleição do dia 8, quando espera que os eleitores usem o direito de escrever o nome de candidatos que não estejam na cédula de votação.

Independente, Wu (foto acima) vive no meio de um canteiro de obras, onde antes existiam as casas de aproximadamente 600 camponeses. A sua casa é a única que ainda sobrevive, graças à sua recusa em acatar as ordens de desocupação.

Há alguns meses, Wu iniciou uma ação judicial contra o distrito policial de seu bairro, que a deteve temporariamente em março. A ex-camponesa decidiu gravar os depoimentos dados na Corte, o que resultou em uma ordem de prisão em 29 de setembro por "obstrução da Justiça".

O documento determinava que ela deveria ficar detida até 13 de outubro, quando ainda teria tempo de registrar sua candidatura - o prazo esgotou-se no dia 16. Mas no dia em que deveria ser libertada, Wu foi levada por policiais para a cidade de Chongqing, no centro da China, onde a cada dois dias era transferida para outro lugar.

Esse tipo de prisão informal e não declarada é usada com frequência cada vez maior por policiais chineses contra ativistas políticos.

No dia seguinte à sua libertação, outros candidatos independentes a visitaram em casa, mas o encontro foi logo interrompido pela polícia. "Eu não consigo fazer campanha porque a polícia controla tudo o que eu faço", queixou-se Wu.

Ye Jinchun e Zheng Wei, vítimas da fraude financeira, marcaram encontro com a reportagem do Estado em uma lanchonete KFC. A entrevista foi realizada no subsolo, longe da entrada e das janelas de vidro que dão para a rua. No meio da conversa, Ye recebeu um telefonema do policial que a acompanha, perguntando quando terminaria seu "lanche". Ele a esperava na saída do KFC. / C.