Título: Planos de austeridade mergulham Grécia na recessão pelo quarto ano consecutivo
Autor: Netto, Andrei ; Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2012, Economia, p. B1

Falta de crescimento, dívidas crescentes e a exigência de sucessivos pacotes de austeridade fez com que a Grécia completasse oficialmente ontem seu quarto ano consecutivo de recessão. O anúncio foi feito em Atenas pelo Escritório Estatístico Helênico, que constatou um recuo de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no quarto trimestre em relação a igual período de 2010.

O caos e a desesperança na economia grega ficou evidente no domingo, quando uma manifestação no centro de Atenas contra o quinto plano de rigor exigido pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) deixou mais de 170 pessoas feridas e 195 prédios destruídos total ou parcialmente.

Os dados indicam que a recessão se acelera: no terceiro trimestre, a queda do PIB era de 5%. Os números levaram o governo grego a atualizar seus prognósticos, prevendo agora que o recuo da riqueza nacional tenha chegado a 6,0% em 2011 (a agência de notícias Bloomberg calcula queda de 6,8%) - ante os 5,5% previstos. A crise das dívidas soberanas, transformada em crise social, se reflete também no mercado financeiro, onde o índice ASE perdeu 50% do valor em 2011.

Nas ruas de Atenas, as estatísticas foram recebidas com indignação contra os partidos políticos e contra a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, vista na Grécia como a responsável pelos programas de rigor que já cortaram € 169 bilhões dos gastos públicos em dois anos.

Observando as cinzas de um banco incendiado no centro de Atenas, na tarde de ontem, Iona Papadakis, funcionária pública de 37 anos, não se mostrava surpresa, mas furiosa. "Nos últimos dois anos, meu salário caiu 33%. Meu filho adulto está desempregado. Como poderíamos ajudar a economia a crescer assim?"

O marido de Iona, funcionário de uma empresa privada, disse temer por seu emprego e entender os manifestantes: "A população grega está sofrendo e ninguém dá ouvidos. É claro que haverá cada vez mais violência".

A desesperança é ainda maior entre jovens: 48% estão desempregados - ante 20% da população em idade ativa. Não bastasse, por exigência da UE e do FMI, o Parlamento aprovou um projeto de lei que reduz o salário mínimo em 22%, porcentual que sobe para 35% entre jovens com menos de 25 anos. Até os empresários foram contra a medida.

Portugal. Em Portugal, a situação também se agrava. No terceiro trimestre do ano, a contração já chegou a 2,7% do PIB em relação a igual período do ano anterior, fruto "da queda da demanda interna", segundo o governo. A recessão é tão grave que investidores estrangeiros já apostam que será impossível ao país honrar suas dívidas soberanas, mesmo com o empréstimo de € 73 bilhões da UE no ano passado.