Título: Ação do Banco Central Europeu provoca queda do dólar no Brasil
Autor: Nakagawa, Fernando ; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2012, Economia, p. B4

Mesmo com intervenção do BC no Brasil, dólar volta a cair pela perspectiva de chuva de euros no mercado

Na véspera de nova injeção de recursos no mercado pelo Banco Central Europeu (BCE) nos bancos da zona do euro, o Banco Central brasileiro teve de voltar a defender o piso informal de R$ 1,70. O BC realizou leilão de compra à vista pouco antes do fechamento dos negócios, mas não conseguiu reverter a desvalorização da moeda americana ante o real. No balcão, o dólar cedeu 0,35%, cotado a R$ 1,7020.

Na BM&FBovespa, o contrato de dólar com vencimento em março encerrou valendo R$ 1,6960, queda de 0,73%, pressionado pela rolagem dos contratos futuros e pela retomada do apetite ao risco diante da expectativa com os bilhões de euros que deverão ingressar na economia a partir de hoje via zona do euro.

Essa é também a principal justificativa para o euro ter se mantido acima de US$ 1,34, deixando para trás o dólar. As bolsas subiram sob a influência dessa megaoperação de hoje do BCE e impulsionadas pela melhora da confiança do consumidor nos Estados Unidos em janeiro.

Expectativa. Uma corrida mais forte para ativos de maior risco, como ações, commodities, dívida corporativa e moedas de países emergentes ocorrerá apenas se a segunda operação de liquidez de longo prazo (LTRO, na sigla em inglês) pelo BCE, programada para hoje, exceder estimativas e ficar próxima de 600 bilhões, segundo analistas ouvidos pela Agência Estado. Desde que o BCE fez a primeira operação com empréstimo com prazo de três anos, para aliviar a pressão sobre bancos da zona do euro, o apetite para risco de investidores globais está aquecido.

Levantamento da agência de notícias Dow Jones com 26 bancos de investimentos indica uma demanda total de 450 bilhões, com 150 bilhões equivalentes a rolagens de operações anteriores com vencimento nesta semana, resultando num aumento líquido de 300 bilhões em liquidez para os bancos europeus.

Na primeira operação feita pelo BCE, em 21 de dezembro, os bancos receberam € 489 bilhões. Desde então, a Bovespa acumula ganho de 14,7%, o índice Standard & Poor"s (S&P) 500 já subiu 10,2% e o dólar acumula queda de quase 8% frente ao real.

Para o estrategista-chefe de câmbio da corretora Brown Brothers Harriman (BBH) em Nova York, Marc Chandler, se o resultado do LTRO ficar bem abaixo de 500 bilhões, os investidores considerarão que os bancos não tomaram dinheiro suficiente e perderão o apetite para ativos de risco. Se a quantia ficar próxima de 600 bilhões, os preços de ações, commodities e moedas de emergentes deverão ganhar impulso, disse Chandler. O real deverá se beneficiar, mas a apreciação encontrará o BC como obstáculo.