Título: Tombini vê crescimento abaixo do potencial
Autor: Nakagawa, Fernando ; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2012, Economia, p. B4

Nesse cenário, presidente do BC acha possível cortar juro sem comprometer inflação

Desde o terceiro trimestre de 2011, a economia brasileira cresce abaixo de seu potencial. Com esse ritmo menor de expansão, o Banco Central entende que é possível cortar a taxa de juros sem comprometer a inflação e, de quebra, incentivar a economia. "Não é por outra razão que o BC vem ajustando sua taxa para baixo nesse período", disse ontem o presidente da instituição, Alexandre Tombini, em tom de justificativa para explicar a senadores o motivo que está por trás dos cortes da Selic, a taxa básica de juros, feitos desde agosto.

Mais que controlar a inflação, Tombini também afirmou de forma explícita, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que o BC trabalha com um novo "mix de política econômica". Se no passado a principal função da casa era estabilizar e manter o poder de compra da moeda, atualmente a instituição também atua em outra frente e age para que o País cresça - o que os economistas já desconfiavam há vários meses.

Ao citar as perspectivas para a economia brasileira em 2012, o presidente do BC disse que o cenário da instituição considera a "manutenção de um mix de política econômica compatível com maior crescimento da economia e convergência da inflação para a meta". Ou seja, Tombini busca um patamar do juro suficiente para conter a inflação sem esquecer o crescimento.

Apesar da expectativa de desaceleração da economia global em 2012, o presidente do BC prevê que o ritmo de expansão no Brasil neste ano será maior que o visto no ano passado, em especial no segundo semestre.

Ao mesmo tempo, Tombini prevê que seguirá o processo de "desinflação" que começou em setembro do ano passado. Desde aquele mês, os índices de preço têm sido menores que os vistos 12 meses antes - o que reforça a avaliação de que o juro básico chegará em breve a um dígito.

Atualmente, a Selic está em 10,5%.

Câmbio. Durante a apresentação, Tombini disse que países emergentes como o Brasil devem continuar a receber grandes volumes de dólares por causa do aumento da liquidez global. Em muitos mercados, para amenizar o efeito da crise, governos têm mantido juros reais baixos - muitas vezes até negativos - para incentivar a economia. Isso faz com que sobre dinheiro no mundo, e parte dos recursos é destinada para o País.

Diante do quadro, o presidente do BC argumentou que o Brasil está preparado para reagir ao fluxo de capitais intenso, pois já tem experiência. Recentemente, o País agiu para tentar conter a queda das cotações do dólar, fato que prejudica exportadores e favorece a entrada de produtos estrangeiros com preços mais competitivos.

Tombini voltou a avisar que o BC sempre entrará no mercado cambial quando for necessário para que ele tenha condições de funcionar. Segundo Tombini, "os instrumentos são amplos" para a ação do BC. "Não nos furtaremos a garantir estabilidade nessa área."