Título: Dilma pede que Merkel enxugue liquidez logo
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2012, Economia, p. B3

Pedido foi uma resposta à pergunta da chanceler alemã sobre o que a líder brasileira gostaria que fosse feito com relação às recentes medidas do BCE

A resposta da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, às críticas da presidente Dilma Rousseff veio no início da noite, na abertura da feira de tecnologia de Hannover - na qual o Brasil é homenageado. Após um discurso de Dilma concentrado sobre a parceria entre os dois países, a chanceler focou em questões econômicas.

Merkel ponderou que o bloco econômico enfrenta uma "crise delicada" e "não há alternativa para a União Europeia, nem para o seu coração, a zona do euro, além de desenvolver a estabilidade e tomar medidas preventivas". A seguir, advertiu: "Nós vamos discutir a crise e as preocupações de cada um".

A presidente falou de um 'tsunami de liquidez' e manifestou preocupação. De nosso lado, nós observamos onde estão as medidas protecionistas unilaterais". Merkel pediu também harmonia no G-20. "Penso que a confiança é o caminho que devemos trilhar para sair da crise. Nós, europeus, estamos conscientes de que temos de olhar além das nossas fronteiras."

As divergências vieram a público antes mesmo do encontro bilateral a portas fechadas entre as duas autoridades, que seria realizado após jantar oficial. A comitiva brasileira retornou do jantar ao Kasten Hotel Luisenhoff pouco antes das 22h30 (18h30 de Brasília). Dilma não falou aos jornalistas.

Segundo o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a presidente teria cobrado a chanceler sobre a injeção de liquidez promovida pelo BCE. Merkel teria respondido que seria uma medida transitória, com prazo de efeito de três anos.

Merkel também teria perguntado a Dilma o que ela gostaria que fosse feito. E a brasileira teria respondido: "Que vocês enxuguem esse excesso de liquidez o mais rápido possível". "Vamos ter de tomar medidas. Não podemos ficar com esse buraco nas contas. Precisamos proteger nosso mercado e nossa moeda."

Medidas. Na semana passada, o governo lançou mais duas medidas para conter a valorização do real. O Ministério da Fazenda decidiu estender aos empréstimos de três anos, de empresas brasileiras no exterior, a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6%. Até então, esse tributo incidia apenas nos financiamentos de até dois anos.

O Banco Central, por sua vez, restringiu o funcionamento de uma das operações de financiamento às exportações.. Além de novas medidas cambiais, o governo conta com a queda mais rápida dos juros para ajudar no câmbio. A taxa Selic mais baixa ajuda a diminuir o diferencial entre os juros interno e externo, diminuindo o atrativo do Brasil para investimentos de curto prazo.