Título: Com carteira, posso pegar empréstimo imobiliário
Autor: Chiara, Márcia de
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2012, Economia, p. B4

Depois de sete meses na informalidade, a costureira Laudicéia dos Santos Silva, de 49 anos, acaba de conseguir um emprego com carteira assinada numa confecção de artigos para praia.

"Trabalhei muito tempo sem registro e ficava preocupada, insegura", diz a costureira.

O salário não mudou com o registro em carteira. Pela jornada de 44 horas semanais, ela ganha o piso da categoria, que é de R$ 888, o mesmo que recebia no emprego anterior.

A diferença, que a deixa muito satisfeita, está nos benefícios que recebe como trabalhadora formal: cesta básica, vale transporte, direito a férias, 13º salário, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a contribuição à Previdência para a aposentadoria.

Mas, na opinião de Laudicéia, o grande benefício de estar com a carteira assinada é o acesso ao crédito para a compra da casa própria. Isso fez diferença na sua vida.

"No mês que vem, vai ter um feirão da Caixa Econômica Federal e, sem carteira de trabalho assinada pelo empregador, eu não poderia comprovar a renda para conseguir um financiamento e realizar o meu grande solho de comprar uma casa própria", diz a costureira.

Facilidade. Laudicéia comenta que hoje em dia está muito mais fácil de conseguir um trabalho com registro em carteira do que no passado.

Ela acredita que a situação ficou mais favorável ao trabalhador na hora de contratar porque falta mão de obra no mercado no mercado de trabalho.

Além disso, no caso do ramo das confecções, onde ela trabalha, os grandes magazines estão apertando a fiscalização porque não querem ter o seu nome envolvido em denúncias de exploração de trabalho sem registro ou trabalho escravo.

Aposentadoria. Assim como a costureira Laudicéia, o telhadista José Maria Silva Nunes, de 36 anos, casado e com um filho, também comemora as vantagens do emprego formal.

A grande vantagem de ter o registro em carteira, que ele obteve há sete meses numa construtora. é a contribuição para a aposentadoria. "Quando eu fazia bico, ganhava mais, mas hoje penso no futuro", diz ele.

Pela jornada semanal de 44 horas, ele recebe R$ 1.086, mais almoço na empresa e vale-transporte, além dos direitos de FGTS e Previdência Social.

Quando estava na informalidade, Nunes conta que chegava a tirar R$ 2 mil por mês, mas sem os benefícios.

"Hoje as empresas querem contratar com carteira assinada", diz o telhadista. Ele conta que, apesar de o mercado estar favorável, tem amigos desempregados. "Fica desempregado hoje quem bota banca e não quer sair de casa por qualquer salário", observa.

Ao contrário dos amigos, que exigem um salário mais alto para voltar a se empregar, Nunes se mostra mais flexível. "É a precisão que faz o trabalhador", diz ele.

O telhadista conta que não quer ficar desempregado e devendo para a Previdência. Por isso, prefere trabalhar mesmo por um salário menor, mas com o registro em carteira.

Com proximidade de eventos importantes, como a Copa do Mundo e a Olimpíada, ele acredita que as oportunidades de trabalho formal na construção civil não vão faltar. / M.C.