Título: Criação de vagas decepciona nos EUA
Autor: Chrispim Marin, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2012, Economia, p. B16

A taxa de desemprego voltou a crescer em maio nos Estados Unidos, depois de gradual queda nos oito meses anteriores. O indicador voltou a 8,2% e disparou um sinal de novo resfriamento da economia americana. Em abril, havia baixado para 8,1%. A divulgação dos números pelo Departamento de Trabalho, na manhã de ontem, contribuiu para derrubar a movimentação no mercado de ações. O Dow Jones, principal índice da Bolsa de Valores de Nova York, fechou com queda de 2,2%.

Em maio, a geração de empregos foi de 69 mil, quando o esperado para o período era 150 mil. Apesar das contratações mais elevadas das indústrias manufatureira (12 mil postos) e de saúde (33 mil postos), a construção civil continuou a empurrar a taxa de desemprego ao cortar um total de 28 mil empregados. Os setores de serviços de escrituração e de habitação também contribuíram com a alta.

De acordo com o Departamento de Trabalho dos EUA, a população economicamente ativa aumentou em maio para 155 milhões - 0,5% a mais do que em abril passado e 0,8% maior do que no mesmo mês de 2011. Mas o número de trabalhadores marginalmente vinculados ao mercado de trabalho, entre eles os que desistiram de buscar emprego, cresceu para 2,4 milhões. Em abril, somavam 2,3 milhões e, em maio de 2011, 2,2 milhões.

Os números divulgados ontem acentuaram a percepção de analistas de um novo resfriamento da economia americana. Se confirmada, essa tendência afetará diretamente as decisões empresariais neste e nos próximos meses e também os rumos das eleições presidencial e do Congresso dos EUA, em novembro. Obama está em plena disputa pela reeleição. Os sinais de desconforto com o desempenho da economia já haviam sido emitidos em abril, quando a taxa de desemprego fechara em 8,1%, porcentual maior do que o esperado, apesar de ter sido o menor desde janeiro de 2009.

Ontem, além da queda de 2,2% do índice médio das ações das principais indústrias americanas, o indicador Standart & Poor's 500 caiu 2,5%, e o Nasdaq, 2,8%. A cotação do petróleo em bruto despencou 3,8% e, de forma inédita, o rendimento de títulos do Tesouro americano de dez anos ficou abaixo de 1,5%. Os aplicadores correram para o ouro, cuja cotação aumentou em 3,7%, segundo o Wall Street Journal.

Panos quentes. A Casa Branca e o próprio presidente Barack Obama tentaram, sem sucesso, acalmar os mercados. Em nota, conselheiro econômico de Obama, Alan Krueger, assinalou ser o problema do mercado de trabalho americano "antigo" e "sem solução da noite para o dia". O país perdeu 8 milhões de empregos nos 25 meses seguintes a fevereiro de 2008. Mas criou empregos - 4,3 milhões - nos últimos 27 meses, argumentou Kruguer.

Com seis eventos eleitorais a cumprir ontem no Estado de Minessota - um dos indecisos entre Obama e seu opositor republicano, Mitt Romney, e onde o desemprego não ultrapassa 6% -, o presidente americano reconheceu estar a economia do país ainda desafiada por "muito vento de proa". Assinalando os riscos de a crise da dívida na Europa "piorar" e de desaceleração das economias da China e da Índia, ele afirmou haver fatores sobre os quais seu governo não tem total controle.

"Mas há várias coisas que podemos controlar aqui de casa", declarou, ao apelar publicamente ao Congresso, hoje controlado pela oposição republicana, em favor da aprovação de projetos da Casa Branca para estimular o crescimento. Entre eles, o pacote de US$ 447 bilhões para dar impulso aos negócios e à geracão de postos de trabalho.

"Temos muito trabalho a fazer antes de chegarmos onde queremos. A economia está crescendo de novo, mas não tão rápido quanto nós gostaríamos", disse Obama aos operários de uma fábrica da Honeywell, em Minneapolis. "Desde o momento em que nós tomamos a primeira ação para prevenir uma nova Grande Depressão, nós sabíamos que o caminho da recuperação não seria fácil, que levaria tempo e que haveria altos e baixos."