Título: China surpreende o mercado e baixa os juros para conter a desaceleração da economia
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2012, Economia, p. B1

Com a desaceleração da economia doméstica e o agravamento da crise europeia, a China anunciou ontem corte de 0,25 ponto porcentual dos juros, em uma decisão que surpreendeu o mercado e evidenciou a preocupação de Pequim com a perda de fôlego do crescimento do país.

Foi a primeira redução da taxa desde o fim de 2008, logo após a explosão da crise financeira global. O governo também aumentou a margem de manobra dos bancos na definição dos juros finais que cobram dos tomadores de empréstimos ou remuneram os depositantes.

A partir de agora, as instituições poderão oferecer ou exigir taxas que variam em 20% em relação ao patamar básico definido pelo banco central. A margem anterior era de 10%. Analistas interpretaram como um avanço em relação à liberalização do setor financeiro.

O corte dos juros foi anunciado duas semanas depois de o governo ter aprovado medidas de estímulo à expansão econômica, incluindo a aceleração na aprovação de projetos de infraestrutura e industriais.

Dados de abril e informações preliminares de maio indicam que a segunda maior economia do mundo perdeu fôlego depois do crescimento de 8,1% entre janeiro e março e poderá fechar o segundo trimestre com ritmo próximo de 7% ou 7,5%. Para o ano, a projeção é de 8%, menor ritmo em mais de uma década.

Entre os projetos aprovados estão a construção de duas grandes siderúrgicas de R$ 42,8 bilhões, com capacidade total para 19,2 milhões de toneladas de aço por ano - mais da metade da produção brasileira de 35 milhões de toneladas anuais.

Com a decisão de ontem, os juros básicos incidentes sobre empréstimos de um ano passaram a ser de 6,31%, enquanto a remuneração dos depósitos foi para 3,15%.

A maioria dos analistas acreditava que o governo não cortaria os juros. Para eles, o instrumento preferencial para estimular a economia seria o aumento da quantidade de dinheiro que os bancos podem emprestar, por meio da redução dos recursos que eles devem deixar imobilizados no banco central.

O chamado depósito compulsório dos bancos já foi cortado duas vezes neste ano. Ainda assim, os empréstimos bancários ficaram abaixo do esperado, o que afeta os números finais de investimentos. O crédito foi o principal propulsor dos milhares de projetos que garantiram crescimento em torno de 10% nos últimos três anos.

A situação doméstica chinesa é agravada pela crise na Europa, principal destino das exportações chinesas. O presidente da China Investiment Corporation, Lou Jiwei, disse ao Wall Street Journal que reduziu as aplicações da instituição em ações e bônus europeus. "Há um risco de que a zona do euro se desintegre e esse risco está crescendo", declarou Lou.