Título: Relatório da ONU alerta para guerra civil na Síria
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2012, Internacional, p. A15

Mais de cem milícias espalhadas pelo país, armamento vindo do exterior, revanchismo sectário, ofensivas militares de grande porte, cristãos alvos de ataques, presença de grupos armados estrangeiros e uma "escalada dramática" da violência. Esse é o resultado da investigação liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro a pedido da ONU sobre a crise na Síria.

Pela primeira vez, um documento público da entidade internacional constata que partes do país já estariam à beira de um "conflito armado não internacional" - ou seja, uma guerra civil em que grupos rebeldes já desafiam de fato a autoridade do regime do ditador Bashar Assad.

Pinheiro apresenta hoje às Nações Unidas, em Genebra, o resultado de seu trabalho, considerado até agora o mais completo levantamento dos crimes cometidos na Síria. A investigação detalha não apenas as violações cometidas pelo governo, mas também os abusos da oposição.

O cenário esboçado a partir de 383 entrevistas e informações de inteligência é o de que a Síria é hoje uma terra sem lei, onde ninguém é poupado.

"A situação mudou dramaticamente nos últimos três meses, diante do fato de que as hostilidades dos grupos antigoverno ganham a cada dia contornos cada vez mais claros de uma insurreição", diz o documento que será entregue hoje à ONU.

Pinheiro recebeu o mandato para reconstituir o massacre de Hula, que deixou 108 mortos em 25 de maio. Mas, ao investigar a situação do país, o brasileiro e sua comissão chegaram à conclusão de que a Síria está à beira uma guerra civil. Grupos rebeldes estão mais armados e organizados e a escalada do conflito fez surgir dezenas de milícias.

Pinheiro alerta no documento que essa violência ganha cada vez mais contornos de um conflito sectário. Se antes as vítimas eram escolhidas por serem anti ou pró-governo, a comissão aponta para um número cada vez maior de vítimas que foram alvo por sua filiação religiosa.

Segundo o relato, soldados simulam execuções, usam choques elétricos, chicotes e barras de ferro. As crianças não são poupadas.

As descrições de estupros mostram que as forças do governo utilizam a prática de maneira recorrente.

Hula

Pinheiro suspeita