Título: Urbanização e intransigência são causas apontadas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2012, Vida, p. A24

Os dados do Censo 2010 surpreendem estudiosos do fenômeno religioso e a cúpula da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), porque a queda da porcentagem e do número absoluto de católicos foi maior do que se esperava. O que mais assusta é a constatação de que a Igreja Católica perdeu 1,7 milhão de seguidores em dez anos, enquanto os evangélicos continuaram aumentando, embora em ritmo inferior ao da década anterior, de 1990 a 2000.

"Se permanecer essa tendência, é possível que daqui a uns 20 anos os católicos não cheguem à metade da população", admite o padre João Batista Libânio, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Essa redução, diz ele, deve ser analisada no contexto cultural de uma pós-modernidade líquida e fragmentada. "Uma instituição compacta como a Igreja Católica sofre essa fragmentação (perde terreno para outras igrejas), na medida em que não abre mão de seus princípios."

O número de católicos só deixaria de cair se a Igreja tivesse flexibilidade em questões da moral sexual, por exemplo. Como a Igreja não cede em questões relativas a aborto, contracepção, divórcio e segunda união, os descontentes buscam outras religiões. Evangélicos pentecostais crescem, pois oferecem produtos e não uma instituição. Essa realidade não deveria assustar a quem analisa a perda de fiéis nessa perspectiva, diz padre Libânio.

Para Edin Sued Abumanssur, chefe do Departamento de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é normal que uma religião hegemônica, como era a Igreja Católica, ceda mais membros para outras quando ocorre o pluralismo. "A tendência é a queda se estabilizar, ficando os católicos em torno de 60%, porque é difícil acreditar que eles vão diminuir até se tornarem minoria e que os evangélicos vão crescer indefinidamente", observou. O professor atribui o crescimento dos evangélicos pentecostais também ao poder da mídia, que suas igrejas utilizam.

Outros dois professores da PUC, Fernando Altemeyer e Jorge Cláudio Ribeiro, analisam a queda de católicos num contexto social que ultrapassa a religião. "A urbanização tem de ser levada em conta", diz Altemeyer. Para Ribeiro, chama a atenção o crescimento da porcentagem dos seguidores de igrejas evangélicas não determinadas - que no Censo se disseram evangélicos sem pertencer a nenhuma comunidade. O número deles quadruplicou.

A CNBB informou que, segundo o secretário-geral, d. Leonardo Steiner, a Igreja não adotará uma estratégia para estancar a sangria antes de analisar com calma os dados. Os bispos consideram que campanhas de evangelização e a Jornada Mundial da Juventude, que se realizará no Rio em julho de 2013, enquadram-se numa pastoral de conquista e manutenção de fiéis.

Ao noticiar a divulgação dos dados do IBGE sobre religião, a CNBB republicou ontem em seu site resultados de levantamento feito, no ano passado, pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) que apontam para o crescimento da Igreja no Brasil. São dados sobre o aumento do número de padres e de paróquias, não sobre o aumento de católicos.