Título: Acusações de que moeda chinesa está desvalorizada perdem força
Autor: Trevisan, Claúdia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2012, Economia, p. B6

Para especialistas, yuan se aproxima do "ponto de equilíbrio", o que deve diminuir exportação e elevar presença externa

Na sua reunião mais recente com o governo chinês, um alto funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) admitiu que o yuan está apenas "moderadamente desvalorizado". É uma mudança e tanto para o fundo que costumava classificar a moeda chinesa como "significativamente" ou "substancialmente" desvalorizada.

A declaração dá combustível a uma discussão acalorada que pode jogar por terra as reclamações de empresários do Brasil, dos Estados Unidos e de outros países sobre a manipulação cambial chinesa. Para os economistas, o yuan se aproxima do nível de equilíbrio e, portanto, está próximo de se livrar da acusação de ser uma moeda artificialmente desvalorizada.

Em 2005, o governo chinês alterou seu regime cambial, permitindo a valorização do yuan, que deixou de ser atrelado exclusivamente ao dólar e passou a variar em relação a uma cesta de moedas. Antes da mudança, o dólar estava cotado a 8,2765 yuans. Na sexta-feira, ficou em 6,3658 yuans, uma valorização de 30%.

O movimento foi feito aos poucos, mas não deixou de ser substancial. Neste ano, aumentaram as preocupações com a crise e com o fraco desempenho das exportações chinesas, e o yuan voltou a se depreciar 1% em relação ao dólar. Mas os economistas acreditam que seja uma parada técnica e não uma mudança de rumo do Banco Central chinês.

"Essa depreciação pode ser temporária. Parece que o yuan está se aproximando do seu nível de equilíbrio e o que veremos agora é bastante volatilidade em torno desse valor", diz Fabiana D"Atri, economista do Bradesco. "O yuan ainda é artificialmente manipulado, porque é o BC chinês que decide seu patamar, mas está caminhando para um nível mais próximo do equilíbrio", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Uma das principais maneiras de se medir o "nível de equilíbrio" de uma moeda é observar o saldo em conta corrente do país. O "nível de equilíbrio" seria aquele que garante um resultado próximo de zero. Déficits expressivos em conta corrente indicariam sobrevalorização do câmbio, enquanto superávits apontam o contrário: desvalorização excessiva.

No início de junho, na reunião anual do diálogo econômico entre o FMI e o governo chinês, o vice-diretor administrativo do fundo, David Lipton, explicou que a entidade mudou formalmente de opinião em relação a moeda chinesa porque o superávit em conta corrente do País declinou acentuadamente e porque o yuan se apreciou.

Em 2007, a China chegou a ter um superávit em conta corrente de US$ 354 bilhões, equivalente a 10,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2011, esse indicador recuou para US$ 201,7 bilhões, ou 2,8% do PIB. E, no primeiro trimestre deste ano, estava em somente 1,4% do PIB. Apenas para comparação, o Brasil teve déficit de US$ 52,6 bilhões em 2011, ou 2,12% do PIB, o maior da história.

Estrutural. De acordo com Sérgio Amaral, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, "é difícil determinar o valor real de uma moeda, mas a tendência é o yuan encontrar um nível de equilíbrio" por conta das mudanças estruturais que a economia chinesa atravessa e da vontade de Pequim de transformar o yuan numa moeda global.

A China atravessa um grande ajuste de seu eixo de crescimento econômico, que está se deslocando das exportações e dos investimentos para o consumo interno. Com a retração das economias de Estados Unidos e da Europa, as exportações chinesas perderam força e o país busca um motor de crescimento na demanda doméstica.

"O yuan mais valorizado é compatível com o objetivo de promover o crescimento da renda e aumentar o poder de comprar da população", diz Amaral.

Para Marcos Caramuru, sócio da Kemu Consultoria de Negócios, sediada em Xangai, a China com uma moeda forte será um país diferente. Ele explica que os chineses vão perder competitividade nas exportações, mas ampliarão seus investimentos e sua presença financeira externa.