Título: Venezuela vende ouro para repor reservas
Autor: Raatz, Luiz
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2012, Internacional, p. A25
Após repatriar metal no ano passado, país se desfez de 10 toneladas para obter dólares
Um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado nesta semana pela agência Reuters indica que o Banco Central da Venezuela (BCV) vendeu entre janeiro e agosto deste ano 10,93 toneladas de ouro no mercado internacional. No final de 2011, o presidente Hugo Chávez mandou repatriar as reservas em ouro da Venezuela aplicadas em bancos europeus. De 372,9 toneladas de ouro contabilizadas em janeiro, restam 362, estima o FMI.
O governo atribui a venda a uma opção de negócio normal do BCV. Economistas independentes acreditam que Chávez precisa aumentar seu fluxo de caixa em dólares para dar prosseguimento à importação de bens de consumo e alimentos.
De acordo com o jornal El Universal, apenas no começo da semana foi vendida 1,8 tonelada de ouro. Em agosto, o BCV obteve US$ 300 milhões após negociar 3,2 toneladas do metal no mercado internacional. O ouro corresponde a 73% das reservas internacionais da Venezuela. As reservas em dólares, segundo o FMI, são estimadas em US$ 2 bilhões.
Cerca de 80% dos alimentos consumidos no país são importados. Muitos deles, como leite em pó, carne de frango e bovina, café e açúcar são vendidos a preços subsidiados para a população de baixa renda em supermercados estatais. Em ano eleitoral, o governo venezuelano acelerou o ritmo de importação desses alimentos, que cresceu 20% em relação ao ano interior. Para cobrir esses gastos, é necessário ter dólares em caixa.
Ainda conforme o Universal, as reservas venezuelanas caíram 17% este ano. Para amenizar esse desgaste, a estatal do petróleo PDVSA injetou US$ 4,5 milhões no BCV. O petróleo é a principal fonte de moeda americana da economia venezuelana e responde por 60% da receita do governo venezuelano. O câmbio é controlado desde 2003 para controlar o preço das importações.
Para o presidente da consultoria privada Econométrica, Angel García Banchs, a questão da venda de ouro está relacionada à escassez de divisas do BCV. Segundo o economista, a falta de dólares tem relação apenas com a importação de alimentos, mas também com a alta dos preços. Em 2011, a inflação na Venezuela foi de 27,6% e estima-se que o país encerre o ano com a inflação mais alta da América Latina. "Além de importarmos barato, o dólar oficial é supervalorizado", disse o analista ao Estado. "Com isso e a renda vinda do petróleo, o preço da divisa é artificialmente baixo e a procura por ela aumenta."
O presidente da Comissão de Finanças da Assembleia Nacional, o chavista Ricardo Sanguino (PSUV), confirmou ao jornal El Mundo que a venda de ouro realmente ocorreu, mas a atribuiu a uma movimentação normal. "O BCV considerou que a oportunidade era atraente e por isso vendeu algo do ouro", declarou. O deputado negou que o objetivo da operação fosse elevar as reservas em dólares. / COM REUTERS