Título: Vote num prefeito para ganhar
Autor: Troster, Roberto Luis
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2012, Economia, p. B2

As atuais campanhas elei­torais lembram concur­sos de criar formas de gastar mais para solucio­nar problemas. As conseqüências certas serão o inchaço do funcio­nalismo, o aumento de impostos e o crescimento da dívida munici­pal. Seria oportuno que, na reta final do pleito, os candidatos tam­bém apresentassem propostas consistentes para enriquecer os munícipes paulistas.

Os eleitores, além de mais saú­de, educação, cultura, segurança, infraestrutura, etc., também que­rem estar num local com mais oportunidades de empreender e trabalhar e apreciam a valoriza­ção de seus imóveis e impostos proporcionalmente menores. En­tretanto, os planos de governo dos atuais candidatos tratam a questão do crescimento - que é central - de maneira superficial, ao deus-dará. Viver e produzir num lugar promissor é fundamen­tal e depende de boas escolhas do governo municipal.

No Estado de São Paulo, há cidades ricas e cidades pobres, cida­des prósperas e cidades estagna­das. Agrande maioria tem resulta­dos semelhantes, entretanto, al­gumas geram dez vezes mais pro­dutos e serviços por habitante que outras e há 65 delas, 10% do total, que cresceram mais que o dobro da média das demais na dé­cada passada.

Esse padrão de resultados é pa­recido com o de outros Estados da Federação e com o de outros países em que uma minoria das localidades tem um desempenho que a destaca das demais. Obvia­mente, cada caso é um caso, mas de maneira geral a explicação es­tá em três conjuntos de fatores, em ordem crescente de importân­cia: 1) ambiente; 2) gestão; e 3) estratégia.

O primeiro grupo está relacio­nado ao ambiente externo ao mu­nicípio, que, quando favorável, es­timula seu desenvolvimento. São variáveis exógenas, como o cresci­mento do resto do país, a alta do preço das culturas ou um fluxo maior de royalties que aumentam a riqueza local. Destacam-se seu caráter passageiro e fortuito e que seu ontrole está fora de alcance.

O segundo conjunto é dado pe­la gestão. É a habilidade do gover­no local de dar vida aos projetos, de atuarem sintonia com os verea­dores, de oferecer bons serviços aos munícipes, enfim, de adicio­nar valor aos recursos dos contri­buintes. Nesse sentido, nesta cam­panha, seria oportuno apresentar também uma análise custo-benefício de cada proposta eleitoral e as melhorias financeiras a serem implantadas na administração municipal. Uma boa execução é condição necessária para crescer.

Todavia, o essencial para um de­sempenho ímpar é uma estratégia adequada. Enquanto a maioria das prefeituras reage a proble­mas, outras poucas geram resulta­dos surpreendentes aproveitan­do oportunidades e fixando priori­dades bem definidas e, dessa for­ma, garantindo um futuro mais abastado a seus munícipes.

A potência da gestão local está se expandindo em razão da tecno­logia, da globalização, das redes produtivas internacionais e das demais transformações da estru­tura econômica. São abundantes os exemplos de cidades no mun­do que fizeram acontecer com estratégias adequadas às oportuni­dades que apareceram. Cingapura e Hong Kong ilustram o ponto para cidades grandes, e há muitas outras médias e pequenas.

Todas as cidades de sucesso têm um elemento em comum: ca­pital humano focado. Seu objeti­vo é atrair e reter os talentos essen­ciais, dar condições locais para ge­rar sinergias, melhorar o ambien­te e coordenar esforços em uma direção. Pode ser o lazer, como em Dubai, ou o conhecimento, co­mo em Boston, ou ainda a políti­ca, como em Tóquio. É um erro pensar que oportunidades ev oca­ções são iguais para todas.

Diferenciação. Não existe uma fórmula única, o sucesso está na diferenciação. O lema de algumas cidades ilustra o ponto: Barcelo­na, "um bom investimento"; Canyon Lake, "um pedaço do paraí­so"; Florence, "uma cidade de caráter"; Roma, "todos os cami­nhos levam a Roma"; Bluffton, "um estado de espírito"; Buenos Aires, "a rainha do Prata"; e Paris, "a cidade luz". Nova York, "capital do mun­do", é um caso emblemático. Era próspera, entrou em decadência e conseguiu dar a volta por cima. A mesma estrutura física de déca­das atrás hoje abriga uma cidade pujante. Apesar de estar no olho do furacão da crise financeira, continua gerando cada vez mais valor. O mérito é de gestões foca­das em fazer acontecer, indepen­dentemente do ambiente adver­so. É falsa a noção de que o país cresce e cada cidade, necessaria­mente, também - a maior parcela de seu desenvolvimento é mérito da administração local.

Num cenário mundial de câm­bios, inclusive da função das cida­des, urge uma estratégia para usu­fruir as oportunidades e evitar a obsolescência e o declínio. Pro­postas de gestão malemolentes e acomodadas certamente produzi­rão resultados pífios. Apenas as aguerridas e ambiciosas podem conseguir um bom desempenho para o município, mesmo que o resto da economia ande de lado.

O plano de governo de cada candidato é uma peça importante pa­ra o exercício pleno da democra­cia. Embora não haja consenso so­bre o conteúdo mínimo, ele deve conter a visão do candidato, sua estratégia, uma quantificação realista de objetivos e meios para al­cançá-los, um orçamento crível para os próximos quatro anos e propostas abrangentes e específi­cas, para que sua viabilidade, con­sistência e conveniência sejam avaliadas pelos eleitores.

O pleito municipal também po­de ser visto como um contrato com um fornecedor, com seu per­fil, seus compromissos e seus pla­nos para melhorar o futuro de nos­sa cidade, seja ela São Paulo ou Borá. Pode contribuir para sua prosperidade, com ganhos polpu­dos para os munícipes ou mais gastos, apenas. Exige uma esco­lha criteriosa, não há como cance­lar o serviço durante quatro anos.

CONSULTOR, DOUTOR EM ECONOMIA PELA USP, FOI ECONOMISTA-CHEFE DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BAN­COS (FEBRABAN), DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS (ABBC) E PROFESSOR DA USP E DA PUC-SP