Título: Corte de juro encerrou ciclo, diz Delfim
Autor: D'Andrade, Wladimir
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2012, Economia, p. B9

O ex-ministro da Fazenda e economista Antônio Delfim Netto disse ontem que o corte da Selic na semana passada, de 7,5% para 7,25% ao ano, en­cerrou a série de reduções da taxa básica de juros neste ano. Segundo ele, o Banco Central (BC) deve esperar para anali­sar os efeitos sobre a econo­mia dos cortes promovidos até o momento e das medidas de estímulo já anunciadas.

"O governo já deu muitos in­centivos de forma que seja bom parar um pouquinho para verifi­car seus efeitos", disse o ex-mi­nistro Delfim Netto, após ser ho­menageado com o título de pro­fessor emérito de 2012 e receber das mãos do vice-presidente da República, Michel Temer, o 16º Troféu Guerreiro da Educação, entregue pelo Centro de Integra­ção Empresa-Escola (CIEE) e pe­lo jornal O Estado de S. Paulo.

Delfim Netto afirmou confiar na análise do Banco Central e dis­se que a instituição tem instru­mentos mais sofisticados que os analistas para avaliar a econo­mia do País. "Na minha opinião, o BC tem se comportado de uma maneira muito conveniente pa­ra o desenvolvimento brasilei­ro", acrescentou.

O economista elogiou tam­bém a abertura dos votos dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom). Para ele, isso reforça a independência do BC. "Essa abertura é muito boa, porque mostra que as pessoas es­tão pensando diferente."

Delfim negou ainda que o BC tenha deixado de lado o tripé eco­nômico formado por superávit primário, cârilbio flutuante e me­ta de inflação. Para ele, o BC se­gue as metas, mas faz ajustes de acordo com a realidade de cada momento. "Os três alicerces são os mesmos, isso não mudou na­da. Apenas estão sendo feitos ajustes para a economia se ade­quar à realidade do momento."

Liquidez. Segundo Delfim, "é óbvio que o aumento da liquidez mundial tende a valorizar o real". Ele acrescentou que os paí­ses desenvolvidos que promo­vem afrouxamentos monetários sabem disso e o Brasil toma meidas "em legítima defesa" para combater a valorização artificial da sua moeda. Delfim deu essas declarações após ser questiona­do sobre a fala do presidente do Banco Central americano (Fed, na sigla em inglês), Ben Bernanke, em seminário patrocinado pe­lo Banco do Japão (BoJ) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em Tóquio. Bernanke afirmou que os efeitos do fluxo de capital nas economias emer­gentes não são predeterminados, e, sim, dependem das escolhas das autoridades monetárias dessas economias.

"Ele (Bernanke) está falando aquilo que ele tem que falar, mas é óbvio que o aumento da liqui­dez mundial tende a valorizar o real. Isso nem ele nem ninguém nega", disse Delfim.

Protecionismo. Sobre o ques­tionamento de países na comuni­dade internacional, de que o Bra­sil está adotando medidas prote­cionistas, o ex-ministro rebateu afirmando que todos os países defendem sua atividade e o Bra­sil é menos protecionista do que aqueles que o acusam.

"O Brasil tem uma porção de dificuldades. Tivemos um câm­bio sobrevalorizado durante muitos anos, destruímos a sofis­ticação de uma indústria que é muito importante e agora esta­mos tentando reconstruir isso. Não tem nada de protecionis­mo", afirmou Delfim. "Na OMC (Organização Mundial do Co­mércio) o Brasil tem medidas que atingem outros países, e os outros países têm medidas que afetam o Brasil. Mas o Brasil é credor nessa contabilidade."