Título: Vaivém da atividade econômica baliza a decisão do BC
Autor: Gerbelli, Luiz Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2012, Economia, p. B3

As explicações para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que deu mais uma esticada e cortou a taxa básica nominal de juros para 7,25%, mostram uma novidade: a decisão, segundo as análises correntes, teria sido balizada pelo ritmo de crescimento da economia - e não pelo nível da inflação, que, por sinal, roda, teimosamente, acima do centro da meta. O fato de a decisão não ter sido unânime indica que o ciclo de cortes se encerrou.

Ao validar as apostas dos operadores dos mercados futuros de juros, que nos últimos dias convergiram para pelo menos mais uma redução de 0,25 ponto nos juros básicos, os diretores do BC parecem ter considerado dois pontos: 1) que a recuperação da economia ainda não ganhou aceleração suficiente; e 2) existiria, por isso, e também pela piora na expectativa de recuperação da economia mundial, espaço para reduzir mais um pouco a taxa básica, mantendo-a nesse patamar historicamente baixo por mais tempo.

Já eram disseminadas as indicações de que o Banco Central, sob a presidência de Alexandre Tombini, incorporara, na execução da política monetária, preocupações com o crescimento econômico, deixando de lado a exclusiva perseguição, a qualquer tempo e em qualquer circunstância, do centro da meta de inflação. O resultado do Copom de ontem não deixa dúvidas de que o BC, se mira o centro da meta, o faz de olho no vaivém da atividade econômica.

Ainda há quem rejeite essa opção, aferrado ao princípio de que com um único instrumento - os juros nominais de curto prazo - só é possível controlar uma única variável - no caso, a taxa de inflação. Geralmente aceito antes da grande crise global dos dias de hoje, esse teorema, que supunha independência de instrumentos e objetivos, nunca foi unanimidade - o Federal Reserve jamais aderiu à regra. Agora, no aluvião de quebras de paradigmas promovido pela crise, entrou em baixa, renegado por um número crescente de economistas de prestígio.

A lógica do movimento é clara: depois de aproveitar, com sucesso, o espaço desinflacionário aberto pela crise global para levar os juros básicos a seus níveis historicamente mais baixos, o BC passa agora a agir no sentido de garantir que essa conquista se sustente por um período prolongado de tempo.