Título: FMI repreende UE por resposta parcial à crise
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2012, Economia, p. B9

Relatório do Fundo, divulgado em Tóquio, contrasta com humor europeu depois da decisão do BCE de comprar títulos dos países com problemas

O Fundo Monetário Internacional (FMI) pediu que as autoridades europeias aprofundem os laços financeiro e fiscal dentro da zona do euro com certa urgência para restaurar a fraca confiança no sistema financeiro global.

O tom severo do FMI sobre a crise da dívida da zona do euro em sua avaliação semestral da saúde financeira global contrasta com o humor na Europa, onde a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de comprar títulos de países que aceitarem assistência financeira afastou preocupações imediatas com a sobrevivência do euro. "Apesar de várias ações importantes já tomadas pelas autoridades, essa agenda continua gravemente incompleta, expondo a zona do euro a um espiral negativo de fuga de capital, temores de ruptura e declínio econômico", disse o FMI em seu Relatório de Estabilidade Financeira Global divulgado ontem.

O documento afirmou que a crise da dívida da zona do euro é a maior ameaça à estabilidade financeira global, que enfraqueceu nos últimos seis meses, deixando o nível de confiança "muito frágil".

O lento progresso na zona do euro significa que os bancos europeus devem desfazer-se de US$ 2,8 trilhões em ativos durante dois anos para cortar suas exposições ao risco, um aumento de US$ 200 bilhões em relação à previsão feita seis meses atrás, estimou o FMI. Isso pode encolher a oferta de crédito na periferia em 9% até o fim de 2013, prejudicando o crescimento econômico.

O relatório soma-se ao cenário pessimista antes do encontro semestral do FMI em Tóquio nesta semana, que unirá líderes financeiros do mundo.

Cenário sombrio. Na terça-feira, o Fundo afirmou que a desaceleração econômica global está piorando e cortou previsões de crescimento pela segunda vez desde abril, alertando autoridades americanas e europeias que um fracasso em consertar seus problemas econômicos vai prolongar a retração.

O cenário em que a Europa caminha, tomando ações ao acaso a cada novo problema da prolongada crise em vez de adotar um plano abrangente pode se provar custoso, afirmou o diretor do departamento de Mercados de Capital e Monetário do FMI, José Vinals, que é também o principal autor do relatório de estabilidade financeira. "Quanto mais tempo passa sem uma solução completa, maior serão os custos eventuais para todos."

Os problemas da Europa também devem servir como lição para os também muito endividados Estados Unidos e Japão de que adiar os ajustes de política necessários até que os mercados os forcem a fazê-los leva a "resultados econômicos mais severos", disse Viñals.

"Nós não devemos deixar as condições atuais do mercado, que melhoraram, levarem a uma falsa sensação de segurança", disse ele. / REUTERS