Título: 'É possível que o mundo cresça pouco até 2017'
Autor: Leolpoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2012, Economia, p. B10

Chefe da área econômica do Fundo avalia que Brasil pode crescer 4% em 2013 e diz que ações do governo estão na direção certa

A desaceleração da economia mundial iniciada na crise de 2007/2008 pode durar uma década. O alerta é do diretor de Pesquisas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard. "Acredito que em cinco anos não haverá pleno emprego nos EUA, mas um nível de emprego normal."

Em entrevista à Agência Estado, Blanchard se mostrou otimista com a expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avance 4% em 2013, especialmente pela forte queda dos juros promovida pelo Banco Central e pelos estímulos fiscais concedidos pelo governo. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Por que o sr. acredita que o Brasil vai crescer 4% em 2013, considerando que, neste ano, o PIB deve avançar só 1,5%?

É verdade, mas cresceu 7,5% em 2010. Nós vemos que ocorreu uma contração muito forte da economia nesse período. E o Banco Central diminuiu bastante os juros desde agosto de 2011. O crescimento de 4% é viável, até mesmo em razão dos estímulos monetários e fiscais concedidos pelo governo.

Até que ponto a equipe econômica no Brasil está agindo corretamente, equilibrando política fiscal e monetária?

Não sou especialista em Brasil. Mas acredito que a combinação está correta. As taxas de juros no País foram consistentemente muito altas por vários anos e isso trouxe distorções à economia. Nessas circunstâncias, talvez a política fiscal não tenha sido dura o suficiente. Creio que os movimentos da gestão da política econômica estão indo na direção correta.

O sr. disse em Tóquio que a Europa está muito próxima de um choque. Como assim?

A deterioração da economia mundial é substancial e há muitos riscos. Um dos grandes desafios é a Espanha e a Itália encontrarem um caminho no qual voltem a crescer, conquistem competitividade e reduzam a dívida pública. O risco é esses países não terem acesso às ferramentas para conseguir isso. Há alguns passos importantes. Primeiro, os países precisam estar comprometidos com a adoção de mudanças estruturais, como o aperfeiçoamento na gestão fiscal. Nesse sentido, as notícias são muito boas, pois os primeiros-ministros, Mário Monti (Itália) e Mariano Rajoy (Espanha), estão bem empenhados em buscar a consolidação fiscal em seus países. Acho que os dois estão fazendo tudo o que é necessário para a situação avançar. Mas pode ser que não seja suficiente. Se esses países tiverem de tomar recursos no mercado pagando 8% ao ano por títulos de 10 anos, não conseguirão sobreviver. Esses países precisam tomar recursos emprestados com taxas de juros baixas.

Qual poderá ser a saída para esses países europeus?

O cenário ruim é o aumento das taxas de juros. A Espanha passa a ter sérios problemas, os investidores acreditam que o país está em grandes dificuldades e podem lançar dúvidas sobre as condições da Itália.

Esse é o cenário mais provável? Não. Por isso o chamamos de risco de vento de cauda. Acredito que as taxas de juros continuarão a ficar baixas e a Espanha conseguirá rolar sua dívida. No entanto, caso os juros subam, o país terá sérias dificuldades e poderá haver grande pressão dos mercados para que aceite o auxílio financeiro.

Como a Grande Recessão começou em 2007 e o BC dos EUA (Fed) informou que as taxas de juros ficarão muito baixas até meados de 2015, as economias avançadas poderão ficar por uma década com taxas perto de zero? Sim, é possível. Quando a demanda e o investimento são baixos e a poupança é alta, então poderá ser necessário ter juros baixos para sustentar a demanda. Se tivermos taxas negativas, seria até melhor.

Isso significa que o mundo poderá ter uma década de crescimento muito pequeno.

Isso mesmo. Eu ficaria desapontado, mas é possível, sim, que tenhamos uma década com o mundo crescendo muito pouco, a partir de 2007.

No relatório Perspectiva da Economia Mundial, divulgado pelo FMI, foi manifestada uma suspeita de que o mundo está num processo de desaceleração mais prolongado do que o esperado por motivos ainda desconhecidos. O que isso significa?

Depois da crise de 2007/2008, o que nós sabemos é que o crescimento mundial desacelerou. Não sei se compreendi perfeitamente o que provocou a crise financeira, mas alguma coisa parece quebrada. O sistema financeiro está quebrado de alguma maneira. Só sabemos que o consumo cai depois de crises. Os mercados emergentes, especialmente China e Índia, apresentaram taxas muito elevadas de expansão na primeira metade de 2000. Mas é razoável pensar que terão taxas menores de expansão nos próximos anos.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 11/10/2012 06:04