Título: Grupo cede para evitar pizza na CPI do Cachoeira
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2012, Nacional, p. A11

Deputados e senadores "independentes" cogitam apoiar relatório de Cunha para comissão não ficar sem documento final.

Na tentativa de evitar que a CPI do Cachoeira termine em pizza, o grupo de parlamentares cha­mado de "independentes" está decidido a votar a favor do relató­rio do deputado Odair Cunha (PT-MG). Integrado pelos depu­tados Miro Teixeira (PDT-RJ), Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e RubensBueno (PPS-PR) e pelos se­nadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT), o grupo tem diver­gências em relação ao parecer do petista e estuda apresentar um voto em separado, mas não des­carta aprovar o texto de Cunha para evitar que a CPI seja concluí­da sem um relatório final.

Para conquistar os votos do grupo, o relator está disposto a incorporar no texto um pedido para o Ministério Público investi­gar 21 empresas laranjas que receberam R$ 545 milhões da em­preiteira Delta nos últimos cin­co anos. Os votos dos indepen­dentes são essenciais para o rela­tório de Cunha, apresentado em sua primeira versão há duas se­manas, ser aprovado.

Parte da base aliada, em espe­cial do PMDB, se uniu ao PSDB para retirar do parecer o pedido de indiciamento do governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo; e do dono da Delta Constru­ções, Fernando Cavendish; além da investigação das transações feitas pela empreiteira. No rela­tório final, Cunha recomenda ao Ministério Público que investi­gue 117 empresas, incluindo a Delta, que movimentaram R$ 84 bilhões nos últimos dez anos.

Mudança. Na semana passada, Cunha mudou o relatório e desis­tiu do indiciamento de cinco jor­nalistas - entre eles, Policarpo Júnior, da revista Veja - e do pedi­do de investigação do procura­dor-geral da República, Roberto Gurgel, pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). "Sou contra a retirada de outras pessoas do relatório da CPI. Se isso acontecer, vamos fazer um relatório de nada", disse o sena­dor Pedro Taques.

O parecer de Cunha deve ser votado só na próxima semana. Ontem à noite, o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), avaliava com os lí­deres partidários o adiamento da sessão prevista para hoje. Se houver sessão, a ideia é que ocor­ra a apresentação apenas de vo­tos em separado.

O PSDB, um dos partidos atin­gidos em cheio pelo relatório, já tem pronto um voto em separa­do que livra Perillo do pedido de indiciamento por seis crimes, de­correntes do envolvimento com o esquema do contraventor Car­los Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. "Não vamos tratar do assunto do governador de Goiás no voto porque ele já está sendo investigado pelo Ministé­rio Público", afirmou o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). Ele ob­servou que vão dar o mesmo tra­tamento ao governador do Dis­trito Federal, o petista Agnelo Queiroz.

O voto tucano vai recomendar ao Ministério Público a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefô­nico de 12 empresas suspeitas de serem fantasmas em transações feitas com a Delta. "Ao todo, são 18 empresas visivelmente laran­jas, que movimentaram R$ 421 milhões com a Delta. Mas só que­braram o sigilo de seis dessas em­presas. Além disso, tem mais 49 empresas que devem ser investi­gadas por movimentações atípi­cas com a empreiteira", disse o tucano. Além do PSDB e dos in­dependentes, o deputado Luiz Pittman (PMDB-DF) estuda apresentar voto em separado.

Com a decisão de adiar a vota­ção, Cunha espera ganhar tem­po para aprovar seu parecer. Ho­je, não há maioria nem para apro­var nem para derrubar o docu­mento.