Título: Aliados criticam resultado de julgamento
Autor: Gallo, Femanâo ; Peron, Isadora
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2012, Nacional, p. A11

Em evento com Dirceu e Genoino, mas sem João Paulo, apoiadores de condenados afirmam que Corte "desrespeitou a Constituição"

No dia em que o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento do mensalão, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino evitaram ontem dar declarações à imprensa e preferiram ouvir manifestações públicas de seus aliados contra a decisão da Corte de determinar a perda de mandato de parlamentares condenados no processo, em evento no centro de São Paulo. Também considerado culpado pelo STF o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) "participaria do debate, mas não apareceu no Sindicato dos Engenheiros

Aos jornalistas, Genoino afirmou que havia comparecido ao evento somente para ouvir, Hoje suplente de bancada do PT, o ex-presidente do partido terá direito a assumir uma cadeira em : 2013, com a posse do deputado Carlinhos Almeida como prefeito em São José dos Campos. A decisão de ontem do Supremo impediria a posse de Genoino.

Dirceu também não quis comentar o fim do julgamento e disse que só voltaria a falar com a imprensa no ano que vem: "Depois do Natal, do ano novo, das festas de fim de ano, voltarei a dar entrevistas. Até lá, vou descansar". Ontem, o ex-ministro divulgou um cartão de Natal chamado "Desesperar Jamais", em que disse ser "Vítima inocente de um julgamento que, em muito pouco tempo, será citado em livros e em salas de aula como um exemplo a ser apagado da história de nosso direito".

A frase segue raciocínio similar ao de participantes do debate de ontem, no Sindicato dos Engenheiros. Professor de Direito da PUC-SP, Pedro Serrano criticou a perda de mandato dos deputados condenados determinada ontem pelo Supremo. "A decisão do STF é contra a letra de qualquer livro de Direito Consitucional. Foi uma irresponsabil-dade o que foi feito no tribunal", afirmou. "A Constituição como valor foi desrespeitada." Serrano afirmou que o julgamento como um todo foi "uma catástrofe". "Parece aqueles processos da era stalinista em que o sujeito entrava já sabendo o resultado do processo", disse. Em seguida, fez uma pausa, olhou para Dirceu e disse: "Desculpa, Zé". A platéia deu risada.

Na mesma mesa estavam o ator José de Abreu, que costuma usar o Twitter para defender os petistas condenados pelo Supremo, e o escritor Fernando Morais, que prepara uma biografia de Dirceu. "Nossa esperança é que o parlamento resista a essa tentativa de usurpação de seus poderes", afirmou Morais:

João Paulo Cunha, que era esperado no evento, não compareceu por causa do trânsito, segundo os organizadores. O ex-secretário de saúde de Osasco Gelso de Lima, que almoçou ontem : com o parlamentar, disse que o ; petista "já esperava" a decisão pela perda do mandato e estava "tranqüilo". Segundo ele, a perda do mandato levaria "pelo me~ nos mais uns seis ou sete meses".

"Lula meu amigo". Antes do início do ato, mais de 20 integrantes da União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao PC do B, fizeram uma manifestação em frente do sindicato em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles repetiam uma frase usada na semana passada nas redes sociais: "O Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo". A frase foi usada para rechaçar as acusações do empresário Marcos Valério, operador do mensalão, de que Lula deu aval e teve contas pessoais pagas pelo esquema.