Título: Política monetária não pode resolver esta crise
Autor: Leopoldo, Ricardo ; Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2012, Economia, p. B10

Dombret diz que países europeus problemáticos devem insistir em reformas e acredita que região voltará a crescer em 2013

A solução dos problemas econômicos dos países europeus que enfrentam recessão é continuar com o programa de reformas estruturais que vão tornar a gestão das contas públicas mais equilibradas no médio prazo, reduzir custos do setor produtivo e recuperar a confiança de investidores internacionais.

A avaliação é do membro do Comitê Executivo do Bundesbank, Andreas Dombret. Em entrevista ao Grupo Estado, ele diz que a "política monetária não pode resolver" a crise.

Embora enfatize que qualquer projeção sobre o desempenho da economia nos próximos anos esteja sujeita a grandes variações, Dombret acredita que a Europa como um todo pode sair da recessão no segundo semestre de 2013. A seguir, os principais trechos da conversa.

As operações OMT (Operações Monetárias Completas, na sigla em inglês) vão trazer a confiança dos investidores na Europa no curto prazo?

Todos no Comitê do Banco Central Europeu (BCE) concordam que a política monetária não pode resolver esta crise. A política monetária pode fazer muito pouco e a zona do euro já tem feito muito para resolver vários problemas: em matéria de cortes das taxas de juros, de Operações de Refinanciamento de Longo Prazo (LTRO, na sigla em inglês), de relaxamento na cobrança de garantias, entre outras medidas. Todos os bancos centrais dos 17 países da zona do euro e também o BCE concordam que as reformas devem vir dos países. A política monetária tem o seu papel, mas esse é limitado. A solução tem de vir do lado da política fiscal dos países envolvidos.

Como o sr. vê a evolução da economia alemã em 2013?

Qualquer avaliação sobre a perspectiva econômica é caracterizada por alta incerteza. Há riscos de que a atividade na Alemanha desacelere mais do que o esperado hoje. A economia da Alemanha provavelmente entrará numa fase temporária de crescimento menor no próximo ano, pois investimentos e a geração de empregos estão sendo adiados. Em 2014, provavelmente vamos ver considerável crescimento de novo.

Mas a difícil situação de vários países na Europa não trará problemas para a Alemanha?

A Alemanha está muito conectada com a economia da Europa, pois são os nossos principais parceiros comerciais. Se a Europa ingressa numa trajetória gradual de recuperação no próximo ano, isso poderá ter efeitos positivos sobre a Alemanha. A desaceleração na China é importante, mas menos significativa para a Alemanha do que o que ocorre com a zona do euro. É por isso que queremos que a nossa união monetária seja forte. Estamos vendo bons sinais de recuperação econômica na Europa. Na Irlanda, há um bom exemplo sobre reformas estruturais. Portugal, Espanha e Itália estão registrando progressos. Estamos vendo luz no fim do túnel na Europa.

E essa luz estará surgindo no fim de 2013?

Sim, isso poderá ocorrer. Mas precisaremos dar continuidade às reformas estruturais desses países. A situação na zona do euro é heterogênea. Há países com taxa de desemprego de 3% ou 4%, mas há também quem tenha uma taxa de 28%. Há países com crescimento e outros passando por uma profunda recessão. Há desequilíbrios na região que são muito altos.

Muitas autoridades afirmam que países europeus em recessão precisam de reformas fiscais, mas também de medidas urgentes para estimular o crescimento. Qual sua visão?

Os desequilíbrios econômicos que existem na zona do euro foram construídos por algum tempo. Esperar que esse cenário mude com rapidez não é realista. É preciso dar tempo para recuperação dos países com problemas. A zona do euro passa por uma crise de confiança. Então, as autoridades têm de mostrar que a política fiscal será capaz de melhorar seus orçamentos de uma forma estrutural. Essa é a única forma de avançar e é o que os mercados querem ver.

Existe uma guerra cambial, como disse o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega?

Em muitos países desenvolvidos há taxas de juros muito baixas e alta liquidez, o que impõe desafios também à Alemanha. Se essa realidade continuar por muito tempo, poderá provocar bolhas de ativos. As taxas de juros na Europa talvez estejam altas para alguns países e baixas para a Alemanha. Pequenas taxas de juros podem emitir sinais de baixos riscos. Guerra cambial é uma expressão que hesito muito em usar. Há riscos com taxas baixas, pois investidores buscam portos seguros. Autoridades de países emergentes podem trabalhar para evitar desequilíbrios financeiros.

Mas os emergentes não estão no foco da arbitragem de juros global, o que tende a apreciar suas moedas?

As autoridades podem adotar medidas para preservar a estabilidade financeira e conter operações que valorizam suas moedas. Não excluímos a adoção de controles de capital, mas apenas como último recurso.