Título: Previsões longe do alvo põem em xeque indicadores do BC
Autor: Villaverde, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2012, Economia, p. B8

A divulgação do ritmo de evolução do Produto Interno Bruto (PIB), no terceiro trimestre do ano, não causou apenas uma surpresa pesadamente negativa. O crescimento de apenas 0,6% sobre o trimestre anterior - 0,7% no ano e 0,9% em quatro trimestres - deflagrou um movimento de forte revisão para baixo das projeções de expansão do nível de atividades e lançou dúvidas sobre a capacidade de recuperação da economia, sob o comando da atual equipe econômica.

Ocorreu uma espécie de efeito dominó ladeira abaixo nas projeções. Depois de reduzirem, nos últimos meses, as previsões de crescimento para 1,5% ou 1,3%, os analistas produziram novos e instantâneos cortes. Otimismo, agora, é estimar um crescimento de 1% para a economia em 2012 - e previsões de um PIB abaixo disso já se tornaram comuns.

Alguns analistas ainda mantêm projeções entre 3,5% e mesmo 4% para 2013, mas com claro viés de baixa. De todo modo, aumentaram, depois do inesperado resultado do terceiro trimestre, as apostas em crescimento do PIB não superior a 3% em 2013 e em 2014 - o que daria, para o governo Dilma, média anual de 2,4%, muito próxima da registrada nos oito anos de FHC.

A resistência de alguns em rever para menos desde já as projeções para os próximos dois anos se deve ao fato frio de que o ritmo de expansão da economia, trimestre a trimestre, mostra uma recuperação. Embora excessivamente tímidos, os números, de fato, evoluem numa escala ascendente. A curva vai de um crescimento de 0,1%, de janeiro a março, a 0,6%, entre julho e setembro, passando por 0,2%, no período de abril a junho. Expectativas de que essa trajetória se confirme, no quarto trimestre, ajudam a justificar a projeção.

Diagnosticar as causas das tendências de alta e de baixa no comportamento dos indicadores econômicos é tarefa corriqueira dos analistas, a cada nova rodada de informações. Desta vez, porém, o trabalho será duplo. Além de apontar o que levou ao resultado surpreendente, eles terão de explicar por que o número surpreendeu tanto. Afinal, acostumados a lidar com projeções de conjuntura, as previsões, incluindo as do Banco Central, passaram longe do alvo, no terceiro trimestre. O ritmo de crescimento encontrado pelo IBGE ficou simplesmente na metade do caminho previsto.

Não é tão difícil encontrar respostas para o que provocou a expansão mais lenta. Sob o ângulo da oferta, os serviços - sobretudo a intermediação financeira, o comércio e os serviços de transporte - puxaram o PIB trimestral para baixo. No lado da demanda, ajustes nos estoques colaboraram para segurar a produção, ao mesmo tempo em que os investimentos recuaram e as exportações andaram de lado.

Menos simples é tentar explicar os desvios das previsões. A primeira hipótese é a de que, de um modo geral, os analistas de conjuntura replicam, com eventuais e ligeiras adaptações, os modelos de previsão do Banco Central. Esses modelos se concretizam no IBC-Br, o indicador que o BC utiliza para antecipar o resultado apurado pelo IBGE. E, agora, estão todos em xeque.

O surpreendentemente baixo PIB do terceiro trimestre não alimentou apenas a percepção de que algo está não está funcionando na política econômica. Também levantou a lebre de que os instrumentos de acompanhamento e antecipação dos humores da economia estão necessitando de ajustes e correções.